HEMO 2025 / III Simpósio Brasileiro de Citometria de Fluxo
Mais dadosA coexistência dos marcadores BCR::ABL p210 e JAK2 V617F em neoplasias mieloproliferativas (NMPs) é rara, com prevalência estimada em torno de 0,4% dos casos testados para ambos os marcadores. Pode ocorrer por detecção simultânea dos marcadores ou por aquisição sequencial, mais comumente com o BCR::ABL p210 surgindo anos após uma NMP JAK2 V617F positiva. O presente relato descreve um caso de coexistência de LMC e MFP com BCR::ABL p210 e JAK2 V617F positivos, destacando os desafios diagnósticos e terapêuticos.
Descrição do casoHomem, 62 anos, apresentou quadro de síndrome consumptiva, sudorese noturna e esplenomegalia volumosa. Apresentava anemia, plaquetopenia e leucócitos de 10.770/mm3 com desvio para a esquerda. Biópsia de medula óssea hipercelular para a idade, com fibrose (MF-3) e dismegaricotopoese. Pesquisa positiva para BCR::ABL p210 e JAK2 V617F, cariótipo com cromossomo Ph em 100% das metáfases. Iniciou tratamento com Imatinibe 400 mg/dia, apresentando toxicidade hematológica e necessidade de suspensão do ITK no terceiro mês de uso. Evoluiu com pancitopenia grave, esplenomegalia progressiva, insuficiência renal aguda e necessidade de internação, enquanto estava temporariamente sem ITK. Dois meses após, já com recuperação hematológica parcial, foi modificado ITK para Nilotinibe 400 mg 2x/dia. Atualmente o paciente aguarda resultado de avaliação de resposta de 3 meses. A coexistência de LMC e MFP com BCR::ABL p210 e JAK2 V617F positivos é um fenômeno raro e complexo, pois trata-se da sobreposição de duas neoplasias mieloproliferativas com características moleculares diferentes. Na LMC, o gene de fusão BCR::ABL gera ativação da tirosina quinase e proliferação clonal de células mieloides. Na MFP, as mutações dos genes JAK2, CALR ou MPL levam à fibrose medular, insuficiência da hematopoiese e hematopoiese extramedular. Essa situação representa um desafio, pois o manejo deve contemplar a ação sobre ambas as doenças. Geralmente envolve terapia combinada com ITKs e agentes dirigidos ao clone JAK2 V617F positivo, além de medidas de suporte conforme necessário. Em casos refratários ou de evolução agressiva, o TCTH alogênico pode ser considerado, sendo a única opção potencialmente curativa.
ConclusãoA coexistência das mutações BCR::ABL p210 e JAK2 V617F desafia o entendimento tradicional de que sejam mutuamente exclusivas. Exige abordagem individualizada, reconhecimento da natureza clonal da doença e uso racional de terapias combinadas.




