HEMO 2025 / III Simpósio Brasileiro de Citometria de Fluxo
Mais dadosA microangiopatia trombótica (MAT) é uma condição caracterizada por lesão endotelial que leva a formação de trombos em pequenos vasos, causando uma trombocitopenia associada a lesões de órgãos alvo. O vírus da imunodeficiência humana (HIV) pode estar relacionado com desenvolvimento da MAT por diversos mecanismos, porém, é raro que a microangiopatia trombótica seja a primeira manifestação do quadro de infecção por HIV. Esse relato tem como objetivo demonstrar um caso em que a MAT foi a primeira apresentação do HIV, evidenciando a necessidade de realização de uma rápida propedêutica para evitar as graves repercussões clínicas da microangiopatia trombótica.
Descrição do casoMulher, 55 anos, previamente hipertensa controlada, iniciou quadro de dor abdominal, sem demais comemorativos clínicos associados. Procurou atendimento de urgência, onde realizou hemograma, que evidenciou plaquetopenia de 53.000, sendo inicialmente, diagnosticada com dengue. Após 2 dias, a paciente evoluiu com manutenção do quadro supracitado associado a astenia e fadiga. O segundo hemograma demonstrou manutenção da plaquetopenia e hemoglobina de 6,8g/dL. Não havia nenhum tipo de exteriorização de sangramento e nem histórico de nenhuma sintomatologia prévia. Foi submetida, no serviço e urgência, a transfusão de 2 concentrados de hemácias, endoscopia digestiva alta e colonoscopia, que se encontravam sem alterações. Posteriormente, foi encaminhada ao serviço de referência. Logo na primeira avaliação, realizou-se esfregaço de sangue periférico, que demonstrou presença de esquizócitos, associado ao aumento de bilirrubina indireta, reticulócitos e LDH, além do consumo de haptoglobina e coombs direto negativo, configurando diagnóstico de MAT. A púrpura trombocitopenica trombótica (PTT) foi excluída e foram solicitados os demais exames para investigação etiológica. As doenças reumatológicas foram descartadas e a sorologia para HIV teve resultado positivo. A dosagem de carga viral foi realizada e a terapia antirretroviral foi prontamente iniciada, após exclusão de demais infecções oportunistas. Houve melhora progressiva do quadro de MAT ao longo dos meses subsequentes.
ConclusãoA fisiopatologia da MAT em pacientes com HIV ainda não é completamente elucidada, porém, acredita-se que seu desenvolvimento pode ter relação com a lesão endotelial mediada por invasão direta do vírus, além de ação das proteínas secretadas pelas células virais no endotélio, como também, efeito indireto de citocinas. As manifestações clínicas da MAT nos pacientes HIV positivo podem ser variáveis e a grande maioria, desenvolvem a microangiopatia trombótica em estádio avançado da doença. Nos casos em que há suspeita de PTT, o tratamento segue tendo como pilar a realização de plasmaférese. Para os pacientes em que a MAT é secundária ao HIV, o início da terapia antirretroviral de forma precoce, é considerado o tratamento de escolha, demonstrando melhora do quadro clínico e laboratorial, como também, redução da mortalidade.




