HEMO 2025 / III Simpósio Brasileiro de Citometria de Fluxo
Mais dadosAs manifestações orais são comumente os primeiros sinais clínicos da leucemia, podendo preceder o diagnóstico ou indicar recidiva da doença. Entre as alterações orais observadas, destacam-se hiperplasia gengival, sangramentos espontâneos, ulcerações, petéquias, palidez da mucosa, trismo e infecções oportunistas. Essas manifestações resultam da infiltração direta de células leucêmicas nos tecidos bucais ou de alterações hematológicas secundárias, como trombocitopenia e neutropenia.
ObjetivosRealizar uma revisão de literatura narrativa sobre as manifestações orais associadas à infiltração leucêmica, com foco nas alterações gengivais, destacando o papel do cirurgião-dentista no reconhecimento precoce desses sinais clínicos indicativos de leucemia.
Material e métodosFoi realizada uma busca na base de dados PubMed, Scielo, Cochrane e Google Scholar, utilizando os descritores: oral manifestation, oral sign, oral lesion, leucemia, leukemias, gingival infiltration, gingivitis, hematological disease, e operadores booleanos para pesquisa. Foram selecionados artigos publicados entre 2014 e 2025, em português e inglês. Os artigos indisponíveis para acesso na íntegra foram solicitados diretamente aos autores. Através desta busca, foram selecionados 39 artigos, sendo 11 revisões de literatura, 3 revisões sistemáticas, 25 estudos observacionais descritivos.
Discussão e conclusãoAs células leucêmicas têm capacidade de infiltrar a gengiva, resultando na formação de falsas bolsas periodontais que favorecem o acúmulo de bactérias na mucosa gengival, desencadeando um processo inflamatório que resulta em um quadro de gengivite. O aumento gengival é especialmente prevalente nas leucemias mielomonocítica (FAB M4) e monocítica aguda (FAB M5), com hiperplasia observada em até 66,7% dos casos de M5. Embora raro, há relatos documentados de infiltração gengival em pacientes edêntulos. A hiperplasia gengival, embora potencialmente reversível, dificulta a higiene oral e favorece inflamações secundárias, enquanto a imunossupressão eleva o risco de infecções fúngicas, bacterianas e virais. As manifestações orais da leucemia são sinais precoces importantes, conferindo ao cirurgião-dentista papel central no diagnóstico e encaminhamento para avaliação onco-hematológica. A hiperplasia gengival, em particular, constitui um marcador clínico relevante que deve levantar suspeita, sobretudo em pacientes com leucemia mieloide aguda. Essas alterações comprometem a qualidade de vida e o bem-estar emocional dos pacientes, evidenciando a necessidade de suporte multiprofissional e acompanhamento odontológico contínuo para prevenção de complicações. O atendimento odontológico a pacientes com leucemia é desafiador devido ao risco de complicações sistêmicas, como septicemia. Contudo, a ausência de tratamento das inflamações bucais eleva a morbidade, o que reforça a importância da avaliação clínica e radiográfica antes do início da terapia oncológica para identificar manifestações orais, doenças periodontais e lesões ósseas. Diante dos resultados da revisão, conclui-se que os cuidados odontológicos devem focar no diagnóstico correto das alterações supracitadas, no controle do sangramento por eliminação do biofilme e na prevenção de infecções. O manejo da hiperplasia gengival inclui orientação de higiene oral com escova de cerdas macias, controle químico do biofilme com clorexidina 0,12%, raspagem supra e subgengival e, caso não haja regressão do quadro, a realização de biópsia incisional.




