HEMO 2025 / III Simpósio Brasileiro de Citometria de Fluxo
Mais dadosO linfoma anaplásico de grandes células associado a implante mamário (BIA-ALCL) é uma neoplasia rara de células T. Está fortemente associado a implantes mamários texturizados, utilizados em cirurgias estéticas ou reconstrutivas. Embora sua incidência seja baixa, o número de casos relatados tem aumentado, refletindo maior vigilância clínica e conhecimento médico.
ObjetivoRelatar um caso de linfoma anaplásico de grandes células ALK-negativo associado a implante mamário, destacando os aspectos clínicos, diagnósticos e conduta adotada.
Descrição do casoPaciente do sexo feminino, 66 anos, previamente hígida, procurou atendimento médico por dor mamária à esquerda de início insidioso associado a sinais flogísticos e aumento de volume progressivo da mesma mama. Tem histórico de mamoplastia de aumento há aproximadamente 10 anos, com implantes de silicone texturizados bilaterais. Foi realizada punção aspirativa ecoguiada da mama esquerda, por equipe assistente, cujo material foi encaminhado para análise citológica e imunohistoquímica. O exame histopatológico revelou proliferação de grandes células linfoides atípicas, compatível com linfoma anaplásico de grandes células. A imunohistoquímica mostrou positividade para CD30 e ausência de expressão da proteína ALK, confirmando o diagnóstico de linfoma anaplásico de grandes células ALK- negativo associado a implante mamário. A paciente foi encaminhada ao serviço de mastologia e submetida à retirada bilateral das próteses com capsulectomia total. Em avaliação subsequente com hematologia, foi solicitado PET-CT para estadiamento, que evidenciou discreto aumento do metabolismo em ambas as mamas, sem linfonodomegalias ou outros focos hipermetabólicos. Diante da ausência de doença residual ou disseminada, foi adotada conduta conservadora com plano terapêutico de reavaliações trimestrais no primeiro ano, com exame físico, exames laboratoriais e imagem mamária de controle. Após 30 meses de seguimento, a paciente permanece assintomática, sem sinais de recidiva ou progressão da doença, com exames dentro da normalidade.
DiscussãoO BIA-ALCL é geralmente indolente e restrito à cápsula do implante. A principal hipótese patogênica envolve inflamação crônica mediada por biofilme bacteriano na superfície texturizada, podendo levar à transformação maligna de células T. A incidência varia amplamente entre países, entre 1:3.000 e 1:3.000.000, refletindo subnotificação, diferenças genéticas e uso de tipos distintos de implantes. O tratamento de escolha nos casos localizados é a remoção completa do implante e da cápsula, frequentemente curativa. Casos disseminados podem exigir quimioterapia. A concomitância de outras neoplasias, como o carcinoma papilífero de tireoide, é pouco descrita, mas reforça a importância da avaliação oncológica ampla.
ConclusãoApesar de raro, o BIA-ALCL deve ser considerado em pacientes com implantes, especialmente texturizados, que apresentem aumento de volume mamário, seroma ou massa. O diagnóstico precoce e a retirada completa do implante oferecem excelente prognóstico. Este caso ressalta a importância da abordagem multidisciplinar e do seguimento prolongado para monitoramento de recidiva e outras neoplasias associadas.




