HEMO 2025 / III Simpósio Brasileiro de Citometria de Fluxo
Mais dadosA forma aleucêmica da leucemia promielocítica aguda (LPA) representa uma manifestação rara dessa doença, caracterizada pela ausência ou escassa presença de blastos no sangue periférico. A LPA resulta da translocação entre os cromossomos 15 e 17, formando o gene PML-RARA, que bloqueia a diferenciação celular e leva ao acúmulo de promielócitos na medula óssea. Apesar de compartilharem a mesma patogênese molecular, a forma aleucêmica pode ter manifestações clínicas distintas, e por sua raridade, há escassez de dados na literatura acerca deste padrão da LPA. Isto posto, o presente estudo busca relatar caso de LPA aleucêmica, a partir do reconhecimento clínico e da conduta terapêutica baseado em dados de prontuário e revisão da literatura sobre o tema.
Descrição do casoF.M.M.F., sexo masculino, 49 anos, hipertenso, etilista crônico, fazia uso contínuo de espironolactona 25 mg/dia e Flancox. No dia 05/04/2025, deu entrada no Hospital com quadro de distensão abdominal, febre e cansaço progressivo com início há cerca de 15 dias. Os exames laboratoriais revelaram hemoglobina de 10 g/dL, leucócitos de 600/mm3, plaquetas de 53.000/mm3, reticulócitos baixos, LDH de 709 U/L e ferritina de 2.635 ng/mL. O mielograma mostrou células com núcleos em halteres, hipergranulação e bastonetes de Auer, sugerindo LPA, confirmada por imunofenotipagem (IMF). Em 07/04/2025, foi iniciado o tratamento conforme protocolo PETHEMA 2004. Evoluiu com CIVD laboratorial em 14/04/2025 (fibrinogênio: 148 mg/dL; dímero-D: 20.000 ng/mL), sem sinais clínicos.
ConclusãoA LPA pode apresentar-se com pancitopenia e complicações associadas à tríade leucêmica, no entanto a complicação comum deste quadro é a CIVD com sangramentos fatais. A atipicidade do presente caso se deu pelo grande período de tempo sem progressão à CIVD, uma vez que da primeira admissão ao início do tratamento, transcorreu-se 19 dias. O diagnóstico baseou-se na apresentação clínica e nos achados típicos do mielograma e da IMF. A medula óssea tinha hipercelularidade de promielócitos anormais do tipo hipergranular em cerca de 95% do conteúdo local, além da presença de pró-mielócitos em sangue periférico de 18%, o que não foi evidenciado em sua primeira internação. Até o presente momento, o teste genético de detecção da mutação ainda não está disponível. Assim, a gravidade e urgência do caso, amparado pela suspeita clínica, justificou o início da terapia de indução conforme o protocolo PETHEMA 2004. Posteriormente, com enquadramento em risco intermediário, iniciou-se a fase de consolidação, estando atualmente no 2º ciclo. O alcoolismo crônico pode ter contribuído para apresentação clínica atípica do caso, uma vez que o etilismo tem sido associado à supressão medular e poderia justificar a ausência de promielócitos no sangue periférico. O relato evidencia a relevância da suspeita clínica de LPA aleucêmica em casos de pancitopenia associada a sinais hemorrágicos, mesmo na ausência de leucocitose. Destaca-se a importância da realização de forma precoce do mielograma e da IMF para confirmação diagnóstica, permitindo o início imediato da terapia com o ATRA associado à daunorrubicina, mesmo antes da confirmação molecular, o que é fundamental para reduzir a mortalidade associada à doença. Este relato contribui para ampliar o conhecimento sobre a apresentação clínica e o manejo da LPA aleucêmica, evidenciando a necessidade da intervenção rápida em situações clínicas atípicas.




