HEMO 2025 / III Simpósio Brasileiro de Citometria de Fluxo
Mais dadosO rearranjo cromossômico do gene KMT2A é uma alteração genética presente na leucemogênese de grande parte das leucemias agudas adultas e pediátricas. O gene KMT2A apresenta diversos parceiros de fusão, sendo o gene MLLT10 o quarto gene mais frequentemente rearranjado. A detecção da fusão gênica KMT2A::MLLT10 é raramente encontrada na Leucemia Mieloide Aguda Megacarioblástica (LMA M7). Na literatura, há descrição de apenas 3 casos pediátricos. Esse relato aborda o caso de uma criança com LMA M7/dendrítica com rearranjo KMT2A::MLLT10, detectado apenas por NGS (Next Generation Sequencing). Esse seria o quarto caso relatado dessa fusão nesse subtipo de leucemia, e o primeiro no Brasil.
Descrição do casoPaciente de 2 anos, masculino, encaminhado para o INCA para investigação de hiperleucocitose e bicitopenia. Na admissão, apresentava anemia (Hb = 4,5 g/dL), leucocitose (122000 uL) e plaquetopenia (7800 uL). Na hematoscopia do sangue periférico, foram observadas células imaturas com projeções citoplasmáticas. No aspirado de medula óssea, foram identificados blastos com citoplasma basofílico e protuberâncias citoplasmáticas do tipo “blebs”. A imunofenotipagem da medula óssea identificou cerca de 70% de blastos, com perfil compatível com o diagnóstico de LMA megacarioblástica/dendrítica: CD34+, CD117+, HLA-DR++, CD123+, CD7+, CD71++, CD38+, CD41+, CD42a+, CD42b+ e CD61+. Na análise citogenética convencional foi observado cariótipo masculino normal nas 30 metáfases analisadas (46,XY[30]). Pela técnica de FISH a pesquisa do rearranjo do gene KMT2A foi negativa. O estudo molecular foi realizado no sangue periférico por sequenciamento de próxima geração (NGS). Foi identificada a fusão gênica KMT2A::MLLT10 (chr11:118355029 - chr10:21875223), entre o éxon 9 do KMT2A e o éxon 4 do MLLT10. Além disso, foi detectada a mutação missense c.37G>C (p.Gly13Arg) na região hotspot do gene NRAS, com uma VAF de 42,72%. O paciente iniciou tratamento com o protocolo BFM LMA 2012. Diante da presença da fusão gênica foi estratificado como alto risco e indicado TMO alogênico em 1ª remissão. Após 2ª indução apresentava DRM positiva (0,2%), entretanto, após consolidação e pré TMO encontrava-se com DRM negativa, sendo encaminhado para TMO alogênico aparentado.
ConclusãoO caso em questão descreve a presença da fusão gênica KMT2A::MLLT10, uma alteração cromossômica incomum na LMA M7 pediátrica e associada com pior prognóstico. Neste paciente, tal alteração não foi detectada pela análise citogenética convencional nem pela técnica de FISH com sonda específica para o rearranjo KMT2A, sendo exclusivamente detectada por estudo molecular por NGS. Dessa forma, ficou evidente que a análise molecular por NGS é uma ferramenta essencial para a adequada estratificação de risco dos pacientes com leucemia, personalização da terapia e um melhor desfecho.
Referências:
- 1.
Kim Y, et al. Cryptic KMT2A/MLLT10 fusion detected by next-generation sequencing in a case of pediatric acute megakaryoblastic leukemia. Cancer Genetics, [S.l.], v. 276–277, p. 36–39, 2023. ISSN 2210-7762.
- 2.
Peterson JF, et al. Acute leukemias harboring KMT2A/MLLT10 fusion: a 10-year experience from a single genomics laboratory. Genes, Chromosomes and Cancer, [S.l.], v. 58, p. 567–577, 2019.
- 3.
Meyer C, et al. The KMT2A recombinome of acute leukemias in 2023. Leukemia. 2023;37:988-1005.




