HEMO 2025 / III Simpósio Brasileiro de Citometria de Fluxo
Mais dadosA hemofilia é uma condição genética que compromete a coagulação sanguínea e exige manejo contínuo, com impactos que vão além do aspecto clínico, atingindo também dimensões funcionais, sociais e emocionais da vida de pacientes e cuidadores.
ObjetivosInvestigar, em âmbito nacional, os desafios enfrentados por pessoas com hemofilia A ou B e seus cuidadores, identificando barreiras de acesso ao diagnóstico e tratamento, além de impactos clínicos, sociais e emocionais.
Material e métodosEstudo conduzido pela ABRAPHEM, com coordenação científica da Supera Consultoria e apoio da Roche, aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa sob o n° 7.499.488. Participaram 312 respondentes, entre pacientes com idade ≥18 anos e cuidadores de pacientes com diagnóstico confirmado de hemofilia A ou B. A coleta foi realizada entre janeiro e abril de 2025, por meio de questionário estruturado online com perguntas fechadas, divulgado nos canais da ABRAPHEM. A análise foi descritiva e, considerando o número de pessoas com hemofilia conforme o relatório de Coagulopatias Hereditárias de 2023, a amostra apresentou margem de erro de ±5,5% e nível de confiança de 95%, representando a diversidade geográfica e socioeconômica da população brasileira com hemofilia.
ResultadosDos participantes, 58% receberam diagnóstico no primeiro ano de vida e 90% possuíam prescrição de profilaxia, embora persistam dificuldades especialmente no acesso venoso em crianças, relatadas por 67% dos cuidadores. A distância média até o centro de tratamento foi de 85,7 km, com tempo médio total por visita de 5 horas e 26 minutos. Além disso, 66% realizam esse deslocamento mensalmente para retirar medicação. Em relação aos impactos clínicos, 81% dos adultos e 67% dos adolescentes apresentaram três ou mais episódios de sangramento no último ano. Entre 18 e 34 anos, foi relatada uma média de 7 hemartroses no último ano, mostrando que complicações como a artropatia são recorrentes. No campo psicossocial, 70% dos cuidadores relataram prejuízo na vida profissional, e sintomas como irritabilidade (62%), insônia (56%) e isolamento social (49%) foram frequentes em pacientes com mais de 18 anos. O estudo também evidenciou falhas no acesso à fisioterapia e à odontologia especializada.
DiscussãoOs achados confirmam que, mesmo com avanços no cuidado da hemofilia no Brasil, a jornada de pacientes e cuidadores ainda é marcada por barreiras estruturais e técnicas, desigualdades de acesso e significativa sobrecarga logística e emocional. A alta frequência de complicações e o impacto psicossocial reforçam a necessidade de ampliar o acesso a terapias menos invasivas e mais efetivas, descentralizar serviços especializados e integrar suporte psicossocial e reabilitação ao cuidado contínuo.
ConclusãoA hemofilia continua a impor desafios que comprometem a adesão ao tratamento, a prevenção de complicações e a qualidade de vida de pacientes e cuidadores. É imprescindível investir em políticas públicas que garantam acesso oportuno e equitativo a terapias inovadoras, fortaleçam e descentralizem a rede de atenção e assegurem apoio integral em todas as fases da vida.
Referências:
1. Chowdary P, Carcao M, Kenet G, Pipe S. Haemophilia. The Lancet. 2025;405:736-50.
2. Iorio A, Stonebraker J, Chambost H, Makris M, Coffin D, Herr C, et al. Establishing the Prevalence and Prevalence at Birth of Hemophilia in Males. Annals of Internal Medi.
3. Ministério da Saúde B. Sistematização Dados Coagulopatias Hereditárias. Ministério da Saúde; 2023.




