HEMO 2025 / III Simpósio Brasileiro de Citometria de Fluxo
Mais dadosA Síndrome de Richter (SR) corresponde à transformação da leucemia linfocítica crônica (LLC) em um linfoma agressivo, mais frequentemente linfoma difuso de grandes células B (LDCBG). Essa evolução está associada a rápida deterioração clínica, refratariedade ao tratamento convencional e sobrevida global significativamente reduzida. O diagnóstico precoce exige integração de dados clínicos, morfológicos, imunofenotípicos e, quando disponíveis, genéticos. A avaliação do sangue periférico e da medula óssea pode evidenciar alterações morfológicas sugestivas, enquanto a imunofenotipagem por citometria de fluxo permite caracterizar mudanças no perfil antigênico das células B, diferenciando SR da LLC clássica e de outros subtipos de neoplasias linfoproliferativas.
ObjetivosDescrever de forma detalhada as características morfológicas do sangue periférico e/ou medula óssea, bem como o perfil imunofenotípico obtido por citometria de fluxo, em uma série de cinco casos de SR diagnosticados em nosso serviço, discutindo achados que auxiliam no diagnóstico diferencial.
Material e métodosEstudo retrospectivo descritivo, envolvendo cinco casos de SR confirmados entre maio de 2007 e maio de 2025. As amostras analisadas incluíram sangue periférico (n = 1), medula óssea (n = 3) e linfonodo (n = 1). Foram analisadas lâminas de sangue periférico e medula óssea, com descrição do tamanho celular, padrão nuclear, cromatina, nucléolos e basofilia citoplasmática. A imunofenotipagem foi realizada por citometria de fluxo multiparamétrica, incluindo marcadores de linhagem B (CD19, CD20, IgM, IgD), marcadores associados à LLC (CD5, CD23, CD200), marcadores de ativação/proliferação (CD38, FMC-7) e de diferenciação (CD10). Alterações citogenéticas foram registradas quando disponíveis.
ResultadosA coorte foi composta por três pacientes do sexo feminino e dois do sexo masculino, com idades entre 45 e 91 anos (mediana de 61 anos). Morfologicamente, observou-se substituição da população de linfócitos pequenos típica da LLC por células grandes, com nucléolos evidentes e citoplasma moderadamente basofílico. A imunofenotipagem revelou linfócitos com moderado a elevado tamanho celular e expressão intensa de CD19, CD5 (5/5) e CD200 (2/2), perda de CD23 em dois casos, expressão elevada de CD20 em 1 caso e expressão moderada de CD79b em dois casos. O CD38 foi positivo em três casos, FMC-7 em um, e CD10 esteve ausente em todos. Houve restrição de cadeia leve em todos os casos (três kappa, dois lambda). Dois pacientes apresentaram cariótipo alterado, incluindo um com cariótipo altamente complexo (76∼87 cromossomos) e múltiplas perdas cromossômicas, deleções e isocromossomo 17q; outro apresentou cariótipo normal.
Discussão e conclusãoOs achados desta série confirmam padrões já descritos na literatura: perda de marcadores típicos da LLC, como CD23 e CD79b, associada ao ganho de expressão de marcadores de ativação (CD38) e aumento da intensidade de CD20, configurando um fenótipo mais agressivo. A correlação morfológica reforçou a importância da análise citológica para confirmar a suspeita de transformação, especialmente em amostras de medula óssea, onde a infiltração pode ser focal. A presença de cariótipo complexo, como observado em um caso, está associada a pior prognóstico e maior resistência terapêutica. Este estudo ressalta que a integração de dados morfológicos e imunofenotípicos é fundamental para o diagnóstico rápido da SR, permitindo o início precoce de regimes terapêuticos adequados para linfomas agressivos, com impacto potencial na sobrevida.




