HEMO 2025 / III Simpósio Brasileiro de Citometria de Fluxo
Mais dadosA transfusão de concentrados de plaquetas (CP) tem se tornado uma demanda crescente nos serviços de saúde. Por se tratar de um hemocomponente com curta validade, manter o estoque em níveis adequados representa um desafio constante para os bancos de sangue. A coleta por aférese tem sido uma importante aliada nesse cenário. Em um hemocentro público que atende mais de 80 hospitais na região metropolitana de São Paulo, com o objetivo de otimizar custos e aumentar a produtividade, foi implementada a coleta de plaquetas tripals por aférese, capaz de gerar três doses de plaquetas em uma única doação. Para garantir a segurança do doador, analisamos a incidência de reações adversas nas diferentes modalidades de coleta por aférese.
ObjetivosAvaliar a incidência de reações adversas em doações de plaquetas simples, duplas e triplas por aférese.
Material e métodosTrata-se de um estudo retrospectivo, transversal, que incluiu todas as coletas de plaquetas por aférese finalizadas entre 01/07/2024 e 15/05/2025, realizadas com o sistema Trima Accel®. As doações foram classificadas conforme o rendimento plaquetário: simples (3,5–4,0 × 10¹¹), duplas (6,2–6,5 × 10¹¹) e triplas (9,5 × 10¹¹). As reações adversas foram categorizadas quanto à gravidade (leve, moderada e grave) e aos sinais e sintomas: parestesia, hipotensão arterial, hipotensão com bradicardia, palidez, síncope e hematoma.
ResultadosForam analisados 4.356 procedimentos, destes 1244 (28,6%) foram coletas simples, 2525 (57,9%) duplas e 587 (13,5%) triplas. A incidência de eventos adversos foi de 7,92%, sendo a maioria (6,11%) destes leves. Não houve registro de reações graves. Os sintomas mais frequentes foram palidez (2,74%) e hematoma (1,96%); os menos prevalentes foram parestesia (0,34%) e síncope (0,14%). Das 348 doações com reações adversas, mais da metade ocorreram em coletas duplas, representando 4,52% do total. Apenas 16 (0,36%) doações triplas apresentaram eventos adversos, todos leves. Analisando separadamente a frequência das reações por tipo de doação, 10,61% das doações simples tiveram eventos adversos; contra 7,8% nas duplas e 2,72% nas triplas.
Discussão e conclusãoEventos adversos em aférese são relativamente comuns, podendo ocorrer tanto no sítio de punção, devido ao fluxo constante de extração e retorno sanguíneo, quanto de forma sistêmica, como nas reações vasovagais e na hipocalcemia induzida pelo anticoagulante. A introdução da coleta de plaquetas triplas gerou preocupação inicial quanto à possibilidade de maior incidência de reações, em razão da maior duração do procedimento e exposição ao anticoagulante. No entanto, observou- se o oposto: a frequência de reações foi significativamente menor nessa modalidade. Supõe-se que isso se deva à criteriosa seleção dos doadores para este tipo de coleta, que exige contagem plaquetária pré-doação próxima a 300.000/mm³ e volemia superior a 5.000 mL. Em contraposição, doadores de plaquetas simples não apresentam este perfil, o que explicaria a maior incidência de eventos adversos nesta população quando fazemos a análise proporcional do número de reações por modalidade de doação. A doação de plaquetas triplas por aférese demonstrou ser uma alternativa segura para o doador e eficiente para os bancos de sangue, contribuindo para a ampliação do estoque de um hemocomponente de difícil captação e alta demanda em hospitais de alta complexidade.




