HEMO 2025 / III Simpósio Brasileiro de Citometria de Fluxo
Mais dadosA leucemia promielocítica aguda (LPA) é um subtipo de leucemia mieloide aguda definida por alterações citomorfológicas e translocações cromossômicas específicas e tem como principal característica o aumento de células imaturas com fenótipo de promielócitos anômalos na medula óssea, com ou sem envolvimento do sangue periférico. Sua gravidade está relacionada à suscetibilidade dos indivíduos a apresentarem sangramentos, resultando em uma coagulopatia grave e potencialmente fatal. O diagnóstico da LPA é realizado através da correlação do quadro clínico do indivíduo, que irá apresentar manifestações hemorrágicas, junto aos exames laboratoriais, como a imunofenotipagem, citogenética e biologia molecular. Embora os achados do hemograma sejam importantes, nem sempre são suficientes para orientar uma suspeita diagnóstica, o que torna fundamental a análise citomorfológica da amostra. Este relato de caso tem como objetivo ressaltar a importância do exame de citomorfologia como ferramenta para o direcionamento da pesquisa imunofenotípica.
Descrição do casoPaciente feminina, idosa, deu entrada no hospital hematológico apresentando os seguintes sintomas e sinais clínicos: otorragia, equimoses, episódios de epistaxe, hiporexia e hematúria. O material de sangue periférico foi encaminhado ao laboratório de citometria de fluxo com a indicação clínica informando anemia, monocitose e trombocitopenia. A análise citomorfológica foi realizada antes da imunofenotipagem e revelou a presença de células mononucleares atípicas, apresentando alta relação núcleo/citoplasma, núcleo clivado em formato de “asa de borboleta” ou bilobado, cromatina frouxa com áreas de heterocromatina contendo de 0 a 2 nucléolos, citoplasma acidófilo a basofílico (rosa-claro a avermelhado e azul-arroxeado) com granulações finas ou hipogranulares, características semelhantes aos promielócitos observados na variante microgranular da LPA. A partir desses achados, a montagem do painel de anticorpos foi direcionada para a investigação dessa neoplasia. A imunofenotipagem identificou 81% de promielócitos com fenótipo anômalo, apresentando expressão moderada de CD45 e positividade para os marcadores mieloides como o CD13, CD33 e MPO. Observou-se perda de expressão de CD15, expressão fraca do marcador mieloide/monocítico CD64, expressão parcial de CD117 e expressão parcial anômala de CD2. As células não apresentaram expressão dos marcadores de imaturidade CD34 e HLA-DR, tampouco do marcador CD56, associado a um prognóstico desfavorável na LPA. O exame foi liberado com a hipótese diagnóstica de LPA e sugestão para pesquisa citogenética do rearranjo gênico PML-RARα (t(15;17)), característico da doença. Após avaliação do resultado, foi realizada a punção da medula óssea da paciente. O material foi encaminhado para citogenética, biologia molecular e novamente para imunofenotipagem. O imunofenótipo observado foi semelhante ao da amostra de sangue periférico. A citogenética molecular (FISH) e a biologia molecular (RT-PCR) detectaram a presença do rearranjo PML-RARα, confirmando o diagnóstico de LPA.
ConclusãoEsse caso evidencia a importância da análise citomorfológica como ferramenta para otimização da imunofenotipagem no laboratório de citometria de fluxo. A observação prévia de promielócitos anormais no esfregaço sanguíneo direcionou a investigação imunofenotípica, o que tornou o processo diagnóstico mais eficiente, agilizando desta forma a entrega dos resultados e, consequentemente, o início do tratamento adequado.




