A otimização das condições hematológicas no período pré-operatório é fundamental para reduzir complicações anestésicas e cirúrgicas. Anemias e distúrbios da hemostasia constituem causas frequentes de adiamento ou cancelamento de procedimentos, além de estarem associados ao aumento da morbimortalidade. A identificação precoce dessas alterações permite intervenções direcionadas, melhorando a segurança do paciente.

Revisar evidências sobre o impacto da anemia e dos distúrbios da hemostasia na prática anestésica pré-operatória e discutir estratégias para o manejo seguro desses pacientes.

Foi realizada uma revisão narrativa da literatura nas bases SciELO, PubMed e Google Scholar (2015–2025). A busca utilizou descritores DeCS e MeSH combinados por operadores booleanos: ("Anemia" OR "Anemia Preoperatória") AND ("Hemostasis" OR "Hemostasia") AND ("Preoperative Period" OR "Período Pré-Operatório") AND ("Anesthesia" OR "Anestesia"). Foram incluídas revisões sistemáticas, diretrizes e metanálises publicadas nos últimos dez anos, abordando pacientes adultos em contexto pré-operatório. Foram excluídos artigos duplicados, estudos pediátricos ou em idiomas não selecionados. Resultando em 9 estudos incluídos na análise qualitativa.

A anemia pré-operatória é definida pela OMS como hemoglobina < 13 g/dL para homens e < 12 g/dL para mulheres, está associada ao aumento de transfusões, infecções, tempo de internação e mortalidade. Entre as causas mais prevalentes estão as anemias carenciais (ferropriva, deficiência de vitamina B12 e folato) e as secundárias a doenças crônicas. Distúrbios da hemostasia, como coagulopatias hereditárias (hemofilia, doença de von Willebrand) e adquiridas (uso de anticoagulantes, hepatopatias), elevam o risco de sangramento intra e pós-operatório. Protocolos de Patient Blood Management (PBM) têm se mostrado eficazes na redução da necessidade transfusional, combinando diagnóstico precoce, reposição de ferro, uso criterioso de hemocomponentes e correção farmacológica da coagulação. Nesse contexto, a avaliação pré-anestésica deve contemplar histórico clínico detalhado, exames laboratoriais direcionados e estratificação do risco de sangramento e de anemia. Intervenções antes da cirurgia, como suplementação de ferro oral ou endovenoso e ajuste individualizado de anticoagulantes, são fundamentais. Diretrizes recentes recomendam estabelecer valores-alvo de hemoglobina e parâmetros de coagulação de acordo com o tipo de procedimento, visando minimizar a exposição desnecessária a transfusões e seus riscos. Portanto, o manejo pré-operatório de pacientes com anemia ou distúrbios da hemostasia requer abordagem sistemática e multidisciplinar. Estratégias baseadas em evidências, como o PBM, otimizam a condição hematológica, reduzem complicações e melhoram o prognóstico cirúrgico. A implementação ampla dessas práticas representa um passo essencial para a segurança e qualidade assistencial em anestesiologia.