HEMO 2025 / III Simpósio Brasileiro de Citometria de Fluxo
Mais dadosO sucesso do cariótipo onco-hematológico está diretamente relacionado à qualidade e viabilidade celular da amostra recebida, sendo a etapa pré-analítica um determinante crucial para o desempenho da cultura. Entre os fatores críticos estão a coleta adequada do material, o transporte em condições controladas, a manutenção da viabilidade celular e o tempo reduzido entre a coleta e o início do processamento. No sangue periférico, a presença de ≥ 20% de blastos é um pré-requisito essencial, pois, na maioria dos casos, não há possibilidade de uso de estímulo mitógeno para induzir divisões celulares. A escolha inadequada do material, a baixa celularidade, atrasos logísticos e condições inadequadas de transporte aumentam substancialmente o risco de ausência total de metáfases (ATM), comprometendo a análise cromossômica e atrasando o diagnóstico. Estudos prévios indicam que a taxa de falhas em culturas citogenéticas hematológicas pode variar de 10% a 20%, com tendência de aumento em amostras obtidas em sangue periférico sem blastos circulantes.
ObjetivoAvaliar as taxas de ausência total de metáfases (ATM) em cariótipos hematológicos e analisar o impacto da escolha do material coletado, destacando o efeito do não cumprimento da condição pré-analítica de presença mínima de 20% de blastos em amostras de sangue periférico.
Material e métodoEstudo retrospectivo incluindo todos os cariótipos onco-hematológicos processados entre janeiro/2022 e dezembro/2024 em laboratório clínico de referência. Foram avaliados: número total de exames, tipo de amostra (medula óssea ou sangue periférico), taxas de ATM e, para o sangue periférico, a proporção de amostras que atenderam ou não ao critério pré-analítico de ≥ 20% de blastos.
ResultadosForam analisados 7.202 cariótipos hematológicos, sendo 88,8% medula óssea e 11,2% sangue periférico. A taxa média de ATM global foi de 12,0%. Na medula óssea, a taxa média foi de 7,4%, enquanto no sangue periférico foi de 40,7%. Mais de 95% das falhas no sangue periférico ocorreram em amostras com menos de 20% de blastos, evidenciando que a maioria dos insucessos neste tipo de material decorre do não atendimento desse critério pré-analítico. Embora o laboratório recomende sistematicamente a coleta em medula óssea para esses exames, amostras de sangue periférico continuam a ser recebidas sem as condições ideais para o sucesso do cultivo.
Discussão e conclusãoA correta escolha da amostra é determinante para o sucesso do cultivo celular no cariótipo onco-hematológico. O uso de sangue periférico deve ser restrito a casos com ≥ 20% blastos, evitando falhas e a necessidade de recoletas. Os resultados obtidos estão alinhados aos achados de Javed et al. (2023), que, em estudo com 1.061 aspirados de medula óssea para citogenética, observaram taxas de falha de até 20% em contextos onco-hematológicos, reforçando que a qualidade e adequação da amostra são fatores críticos para o êxito da análise. A seleção criteriosa do material, considerando as características da amostra, a hipótese diagnóstica e as condições de transporte e processamento, pode aumentar expressivamente a taxa de sucesso das culturas citogenéticas, melhorando a acurácia diagnóstica e a tomada de decisão clínica.




