HEMO 2025 / III Simpósio Brasileiro de Citometria de Fluxo
Mais dadosPacientes com queimaduras extensas frequentemente apresentam anemia grave, perdas sanguíneas operatórias e inflamação sistêmica que demandam transfusões de concentrado de hemácias. Embora as transfusões possam ser necessárias para restaurar a estabilidade hemodinâmica e melhorar a oxigenação tecidual, volumes excessivos estão associados a desfechos negativos, como infecções, sobrecarga circulatória, imunossupressão e maior mortalidade. Diante disso, estratégias transfusionais mais restritivas têm sido propostas como alternativas mais seguras e eficazes, especialmente em contextos de recursos limitados. Assim, torna-se fundamental avaliar o impacto clínico das diferentes abordagens transfusionais nesses pacientes, a fim de subsidiar condutas baseadas em evidências.
ObjetivosAnalisar os efeitos das estratégias transfusionais restritivas, liberais e ultra-restritivas sobre os desfechos clínicos em pacientes com queimaduras ≥ 20% de superfície corporal queimada, com ênfase na mortalidade, infecções e volume transfundido.
Material e métodosRealizou-se uma revisão sistemática com base em sete estudos publicados entre 2016 e 2025, envolvendo um total de 2.247 pacientes com queimaduras moderadas a extensas. Foram incluídos ensaios clínicos randomizados, coortes multicêntricas e estudos retrospectivos. As análises estatísticas extraídas compreenderam razões de risco (OR/RR), regressões logísticas, modelos de Cox e estimativas com intervalo de confiança de 95%. A síntese foi realizada de forma descritiva.
Discussão e conclusãoEstratégias restritivas, com transfusão a partir de Hb < 7 g/dL, mostraram-se seguras, sem aumento na mortalidade (OR 1,04; p = 0,89; IC95% 0,60–1,77) nem nas taxas de infecção da corrente sanguínea (OR 1,03; p = 0,904; IC95% 0,60–1,77) em comparação à estratégia liberal (Hb < 10 g/dL). A adoção de limiares ultra-restritivos (Hb < 7 g/dL) também não elevou a mortalidade (RR 1,08; p = 0,69; IC95% 0,72–1,61); entretanto, manter Hb < 6 g/dL sem transfusão associou-se a risco significativamente maior de morte (RR 2,49; p = 0,001; IC95% 1,39–4,46). Volumes transfusionais > 6U no pós-operatório imediato estiveram relacionados a pior prognóstico (p < 0,0001). Além disso, em contextos de baixa renda, a transfusão alogênica aumentou a mortalidade em 23% (OR 1,23; p = 0,03; IC95% 1,01–1,51). O volume de CH intraoperatório correlacionou-se fortemente à área excisada (β = 0,47; p < 0,001; IC95% 0,32–0,61). As evidências reforçam que a estratégia transfusional restritiva é segura e eficaz em pacientes queimados, evitando riscos associados ao excesso de hemocomponentes. No entanto, hemoglobina < 6 g/dL sem reposição implica risco elevado de morte. O uso racional e guiado por protocolos clínico-laboratoriais é essencial, sobretudo em ambientes com limitação de recursos.




