HEMO 2025 / III Simpósio Brasileiro de Citometria de Fluxo
Mais dadosPaciente pediátrico do sexo masculino, residente em território de vulnerabilidade social no estado do Ceará, com diagnóstico confirmado de hemofilia A grave, apresentava histórico de múltiplos episódios hemorrágicos graves, com necessidade de internações frequentes e baixa adesão ao tratamento profilático com fator VIII. Em um dos episódios de sangramento, exames laboratoriais evidenciaram presença de inibidor com título superior a 2 BU/mL, critério que atende à indicação de uso de Emicizumabe conforme o Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas (PCDT) do Ministério da Saúde. O tratamento com Emicizumabe – anticorpo monoclonal biespecífico, administrado por via subcutânea e com menor frequência posológica – foi então iniciado. No entanto, mesmo com os benefícios do novo regime terapêutico, a família continuou com dificuldades para comparecer regularmente ao serviço especializado, o que comprometia a eficácia do tratamento.
Descrição do casoDiante desse cenário, foi implantada uma estratégia de cuidado compartilhado entre o hemocentro (serviço especializado) e a Unidade Básica de Saúde (UBS) mais próxima à residência da família. A equipe da UBS foi capacitada para realizar a aplicação do Emicizumabe, sob orientação técnica da instituição. A centralização do controle de doses, agendamento, envio da medicação e acompanhamento clínico permanece sob responsabilidade do hemocentro, que organiza o cronograma de aplicações e realiza o monitoramento remoto contínuo. As aplicações passaram a ocorrer mensalmente na UBS, mediante agendamento prévio definido pelo serviço especializado. O serviço de enfermagem local acompanha a chegada das doses e reforça junto à família a importância da adesão. O acompanhamento clínico especializado é mantido via teleconsultas mensais, com avaliação sistemática do paciente. A comunicação entre os serviços foi estruturada, garantindo resolutividade e apoio à UBS na eficácia do tratamento.
ResultadosApós três meses de implementação da nova estratégia: 1. O paciente apresentou 100% de adesão às aplicações mensais. 2. Não houve registro de episódios de sangramento ou queixas clínicas. 3. A equipe da UBS demonstrou autonomia e segurança na aplicação. 4. A proximidade da UBS à residência da família foi fator determinante para a adesão. 5. O hemocentro manteve o controle e condução terapêutica com eficácia. 6. A comunicação intersetorial foi efetiva, com escuta qualificada e gestão conjunta.
ConclusãoEsse caso demonstra que, mesmo com os benefícios do Emicizumabe, a adesão plena só foi possível com o apoio territorializado da atenção primária. A experiência mostra que a coordenação do tratamento pelo serviço especializado (o hemocentro), aliada à execução compartilhada com a UBS, viabiliza o acesso e a continuidade terapêutica em contextos vulneráveis. Estudos como HAVEN 1–4 e o EMCase reforçam a eficácia clínica do emicizumabe, mas este relato evidencia sua aplicabilidade prática no SUS, desde que inserido em modelo de cuidado integrado e articulado. A atuação integrada entre o hemocentro, a UBS e a família, com centralização do controle terapêutico no serviço especializado e administração local em unidade próxima à residência, foi decisiva para alcançar adesão plena ao emicizumabe e eficácia clínica. O modelo pode ser reproduzido em outros contextos, ampliando o acesso ao tratamento e promovendo equidade no cuidado prestado pelo SUS.




