HEMO 2025 / III Simpósio Brasileiro de Citometria de Fluxo
Mais dadosA Doença Falciforme (DF) é a hemoglobinopatia de maior prevalência mundial, causada pela substituição do ácido glutâmico pela valina no cromossomo 11 originando a Hemoglobina S (HbS). Em situações de desoxigenação, a hemoglobina mutada polimeriza-se e há a formação de drepanócitos. A mutação em homozigose (HBSS) apresenta manifestação clínica severa. Podem ocorrer associações da HbS com outras hemoglobinopatias, como HbSC e a HbS/β⁰-talassemia. Em Minas Gerais, estado do Brasil, a DF foi incluída na Triagem Neonatal em 1998, por meio das metodologias: Eletroforese de Hemoglobina (ELHB) por focalização isoelétrica e Cromatografia Líquida de Alta Performance (CLAP). A ELHB e a CLAP, isoladamente, possuem sensibilidade de 97,5% e 99,2% e especificidade de 96,8% e 98,7% respectivamente. Ambos os métodos podem ser realizados individualmente, mas em associação apresentam valores preditivos positivos (VPP) de 100%. O exame de biologia molecular para DF baseia-se na técnica de reação em cadeia da polimerase, voltada para análise dos genes da globina e identificação das mutações na β-globina, com sensibilidade acima de 99,5% e especificidade superior a 99,9%, sendo considerado padrão ouro, capaz de identificar a coexistência da HbS associada à talassemia. No entanto, é uma tecnologia de alto custo, devendo ser reservada a casos especiais.
ObjetivosComparar a metodologia tradicional, por ELHB e CLAP, com o estudo molecular (EM) no diagnóstico dos subtipos de DF.
Material e métodosEstudo longitudinal retrospectivo em pacientes da Coorte de DF da Fundação Hemominas de Juiz de Fora. As variáveis sexo, data de nascimento e classificação do tipo de DF, avaliadas por ELHB por capilaridade e CLAP, e exames bioquímicos de rotina foram extraídas dos prontuários dos participantes. O EM foi obtido dos dados da Coorte, exame realizado no Laboratório de Biologia Molecular. A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética e cadastrada na Plataforma Brasil.
ResultadosForam estudados 50 pacientes, dos quais 32 eram do sexo feminino. A média de idade foi 10,9 anos (intervalo: 5–29 anos). No diagnóstico pela metodologia convencional, 2 pacientes foram classificados como HbS/β⁰-talassemia, 13 como HbSC e 35 como HbSS. O EM foi concordante em 48 casos, com apenas um paciente previamente classificado como HbS/β⁰-talassemia com confirmação para HbSS e outro, classificado como HbSS, confirmado como HbS/β⁰-talassemia. Comparada ao EM, a ELHB associada à CLAP apresentou sensibilidade de 97,1%, especificidade 93,3%, acurácia de 96%. Os exames de rotina dos dois casos mostraram, respectivamente: HbS na ELHB de 85,5% e 77,7%; Hb basal de 7,7 e 8,1 g/dL; reticulócitos de 13,42% e 4,01%; bilirrubina total 2,93 e 1,12 mg/dL; bilirrubina indireta de 2,05 e 0,82 mg/dL - indicando maior gravidade no primeiro caso, mais compatível com o genótipo identificado pelo EM.
Discussão e conclusãoA metodologia diagnóstica tradicional possui bom desempenho de rastreio, com alto VPP, mas não dispensa a confirmação dos subtipos por técnicas complementares em casos de dúvidas ou discordâncias clínicas. No SUS, o acompanhamento diagnóstico é limitado à rotina laboratorial, que deve ser interpretada criticamente, respeitando a individualidade e o potencial de gravidade de cada paciente.
FinanciamentoFundação Hemominas, National Institute of Health e Universidade de São Paulo.




