HEMO 2025 / III Simpósio Brasileiro de Citometria de Fluxo
Mais dadosEmbora conhecidos os efeitos da plasmaférese sobre a hemostasia, não há protocolo definido para controle laboratorial ou manejo das alterações. A ocorrência de eventos hemorrágicos é baixa (< 10%), pelo baixo significado clínico, uso de medidas profiláticas ou subnotificação. A principal alteração transitória é do fibrinogênio, cuja meia-vida (96h) excede o intervalo entre sessões. Vários fatores influenciam essas alterações: volume de troca, número de procedimentos, fluido de reposição, tipo de anticoagulante, procedimentos invasivos e anticoagulação concomitante. Intervenções geralmente são indicadas com níveis <100mg/dL, embora estudos recentes considerem <80mg/dL. As condutas incluem transfusão de plasma fresco congelado ou crioprecipitado, administração de fibrinogênio ou ajuste no intervalo das sessões.
ObjetivosAnalisar os níveis de fibrinogênio, necessidade de transfusão e risco de sangramento em pacientes submetidos à plasmaférese terapêutica.
Material e métodosEstudo retrospectivo de prontuários de pacientes submetidos a plasmaférese terapêutica entre 01/10/2023 e 07/03/2025, em hospitais atendidos pelo Banco de Sangue do Grupo GSH. Avaliadas as dosagens de fibrinogênio (antes e após o tratamento), número de sessões, fluido de reposição, intercorrências e necessidade de transfusão. Considerou-se baixo fibrinogênio ≤ 100 mg/dL.
ResultadosDos 315 pacientes analisados, 191 (60,6%) realizaram dosagem de fibrinogênio antes e 180 (57,1%) após o término, totalizando 216 (68,6%) com ao menos uma dosagem. Os valores iniciais variaram de 39 a 660mg/dL (média: 259), com 6 (2,8%) apresentando níveis baixos; nenhum precisou de reposição ou teve sangramento. Os valores pós variaram de 40 a 500mg/dL (média: 193), com 15 (6,9%) pacientes com hipofibrinogenemia, sendo 12 com doenças neurológicas, 1 vasculite pauci-imune, 1 microangiopatia trombótica pós-transplante renal e 1 doença de Wilson. Três não tinham dosagem inicial, e 1 já apresentava valor baixo ao início, possivelmente pela doença de base. Ao todo, 13 pacientes (6%) receberam algum tipo de reposição: 6 crioprecipitado, 4 PFC, 1 complexo protrombínico e 2 fibrinogênio. Houve 2 casos de sangramento (0,93%): 1. Paciente com microangiopatia trombótica associada à infecção, realizou 4 sessões diárias com PFC, não dosou fibrinogênio, sangrou no local do cateter e recebeu PFC. 2. Paciente com vasculite pauci-imune, realizou 1 sessão com albumina, fibrinogênio pós de 70mg/dL, sangrou em local de biópsia renal e recebeu crioprecipitado.
DiscussãoA identificação precoce de níveis críticos de fibrinogênio e fatores de risco permite padronizar condutas, prevenir sangramentos e evitar transfusões desnecessárias. A incidência de sangramento (0,93%) foi inferior à literatura (<10%), mas 13 pacientes receberam reposição, dificultando a conclusão se a baixa incidência decorre do baixo significado clínico ou do uso de medidas profiláticas. Ressalta-se o número expressivo de pacientes sem dosagem de fibrinogênio (39% no pré e 43% no pós) e a heterogeneidade das condutas adotadas. Os dois casos de sangramento possuíam fatores de risco reconhecidos, cateter e procedimento invasivo, confirmando dados da literatura.
ConclusãoEstudos prospectivos e protocolos definidos são necessários para apoiar as decisões clínicas. Como primeiro passo, é essencial conscientizar as equipes médicas sobre a importância do controle laboratorial da coagulação durante o tratamento com plasmaférese.




