A transfusão de sangue é empregada como apoio terapêutico desde o século XX, sendo útil ao tratamento de diferentes patologias. Mas a garantia dos produtos sanguíneos para a terapia transfusional depende do comparecimento de doadores aos hemocentros e é impactada por condições de inaptidão temporária do doador.

Avaliar as principais causas de inaptidão temporária entre doadores que compareceram em unidades de coleta de sangue administradas pelo Hemocentro Coordenador do Estado do Rio de Janeiro, o Hemorio, no período de fevereiro a junho de 2025.

Estudo observacional retrospectivo a partir do levantamento de dados sobre o comparecimento de doadores na Unidade de Coleta de Duque de Caxias (UCDC), no Hemonúcleo Municipal de Teresópolis (Hemotere) e no Instituto Estadual de Hematologia Arthur de Siqueira Cavalcanti (Hemorio) no período de fevereiro de 2025 a junho de 2025. Foram levantados dados a partir do Sistema de Apoio ao Ciclo do Sangue – SACS- e realizada análise estatística da aptidão/inaptidão, por causa e sexo, perfilizado para cada unidade. Os dados foram reunidos em planilhas do software Microsoft Excel.

No período, o Hemorio acolheu 42.047 potenciais doadores, 84,06% aptos à doação de sangue (sexo feminino: 46,6%). Entre as causas de inaptidão, a principal foi anemia (3,09%) e mais prevalente no sexo feminino (92,8%). Outras causas para inaptidão temporária foram uso de medicamentos (1,93%), relacionamento recente (1,85%), processos infecciosos (0,38%) e estado gripal (0,22%). Essas condições se mostraram no sexo feminino em 51,5%; 38,6%; 54,0%; 40,2%, respectivamente. Na UCDC, o comparecimento de doadores no período foi 2807 candidatos, sendo 79,87% aptos (sexo feminino: 43,2%). A principal causa para inaptidão temporária se relacionou ao uso de medicamentos (2,85%) e no sexo feminino (55%). A anemia foi segunda causa de inaptidão temporária (2,57%) e no sexo feminino (55,5%). Os quadros infecciosos e quadro gripal foram prevalentes no sexo masculino (62,9% e 100%, respectivamente). Em Hemotere 80,62% de doadores foram aptos à doação de sangue (43,1% do sexo feminino). As causas de inaptidão temporária foram anemia (5,05%) e uso de medicamentos (3,08%), com prevalência no sexo feminino de 86,3% e 56,9%, respectivamente.

As inaptidões clinicas abrangem um conjunto de circunstâncias que impedem o candidato à doação de sangue para sua proteção e/ou a quem receber esse sangue. Entre as inaptidões, há as que impossibilitam provisoriamente à doação de sangue. Os achados do estudo corroboram os dados de literatura que mostram que, no Brasil, as principais causas de inaptidão são anemia, prática sexual e estado de saúde no ato da doação. Para um hemocentro, é útil o reconhecimento de principais causas de inaptidão, não somente para a segurança da doação e transfusional, mas, sobretudo, para desenvolvimento de estratégias que sustente o vínculo do doador neste período de incapacidade à doação de sangue. Doadores inaptos provisoriamente são um recurso importante para a garantia do abastecimento de estoque a longo prazo, após esgotada a condição de impossibilidade clinica e fidelização ao hemocentro. Ao identificar inaptidões temporárias, o hemocentro pode orientar o doador sobre o período de espera e promover estratégias que o incentive a retornar após a recuperação, contribuindo para a manutenção do estoque de hemocomponentes.