HEMO 2025 / III Simpósio Brasileiro de Citometria de Fluxo
Mais dadosA leucemia mieloide aguda (LMA) é uma neoplasia hematológica agressiva com alta mortalidade precoce, especialmente entre pacientes submetidos à quimioterapia intensiva. Com o surgimento de terapias menos tóxicas e eficazes, torna-se essencial identificar precocemente pacientes com maior risco de óbito, orientando escolhas terapêuticas mais seguras. Dentre os escores prognósticos, destaca-se o Treatment-Related Mortality (TRM), validado em uma coorte americana de 3.365 pacientes com LMA, pré-quimioterapia, de indução, em altas doses. Contudo, sua aplicabilidade em serviços públicos brasileiros ainda não foi avaliada.
ObjetivosAvaliar o desempenho do escore TRM em uma coorte de pacientes com LMA tratados com quimioterapia de indução 7+3 em hospital público na Bahia.
Material e métodosEstudo retrospectivo com 120 pacientes tratados de Fev/2015- Fev/2025.O escore TRM foi calculado conforme modelo original, utilizando as mesmas variáveis (idade, ECOG, creatinina, albumina, leucócitos, plaquetas, % de blastos e tipo de LMA). O desfecho primário foi óbito até 28 dias, após início da quimioterapia. A capacidade discriminativa foi avaliada pela área sob a curva ROC (AUC), com cálculo de sensibilidade, especificidade, valores preditivos positivo e negativo, e acurácia global. A categorização como LMA de secundária foi baseada em dados clínicos e laboratoriais disponíveis.
ResultadosA idade média dos pacientes foi de 42 anos, sem comorbidades significativas e com estado funcional majoritariamente entre ECOG 1-2. A mortalidade precoce foi de 15% (18/120). O escore TRM, na amostra analisada, apresentou AUC de 0,58 (IC95%:0,438–0,719), sensibilidade de 38,9%, especificidade de 80,4%, valor preditivo positivo de 23,5% e acurácia global de 70%. Quando analisadas isoladamente, as variáveis ECOG e LMA secundária apresentaram AUCs de 0,51 e 0,54, respectivamente.
Discussão e conclusãoO desempenho limitado do escore TRM nesta coorte pode estar relacionado ao perfil clínico homogêneo da população estudada, composta por pacientes mais jovens e funcionalmente preservados, o que reduziu a variabilidade das variáveis do modelo. A baixa acurácia do ECOG pode estar relacionada à sua natureza subjetiva. A idade, com AUC ≈ 0,55, também mostrou discriminação limitada. A ausência de exames sistemáticos de citogenética e biologia molecular comprometeu a classificação precisa da LMA secundária, subestimando sua frequência. Esses fatores podem ter contribuído para o desempenho inferior observado em comparação ao estudo original, que reportou AUC de 0,82. O escore TRM apresentou desempenho discriminatório limitado na predição de óbito precoce em pacientes com LMA tratados em hospital público no Brasil. O número reduzido de eventos comprometeu a validação estatística formal, sendo os achados de caráter exploratório. Assim, nossos achados sugerem que modelos prognósticos desenvolvidos e validados em populações distintas, com características clínicas, recursos diagnósticos e contextos assistenciais diferentes, podem não apresentar o mesmo desempenho quando aplicados em cenários como o da saúde pública brasileira. A validação local ou a adaptação desses escores é essencial para garantir maior acurácia preditiva e utilidade clínica, permitindo decisões terapêuticas mais alinhadas à realidade dos pacientes e dos serviços disponíveis no país. Estudos multicêntricos, com maior poder amostral e delineamento prospectivo, são fundamentais para validar ou adaptar modelos prognósticos à realidade assistencial brasileira.




