Relato de estudo imunohematológico, tendo por finalidade compartilhar experiência de identificação de anticorpo Anti-Fy3.

Paciente: E. V. S. F., 62 anos, feminino, brasileira, diagnosticada como rafia de fístula, enterectomia segmentar e ileostomia. Em 06/02/2025 foram realizados testes pré-transfusionais que apresentaram os seguintes resultados: tipagem sanguínea: O RH(D): Positivo; teste de antiglobulina direto (TAD): Positivo; Eluato: Auto IgG Indeterminada; Pesquisa de anticorpos irregulares (PAI): Positiva em gel LISS Coombs / gel IgG / gel NaCl; identificação do(s) Anticorpo(s) Sérico(s): anticorpo reativo com todas as células do painel; autocontrole positivo em gel LISS e gel NaCl. Fenótipo: C-, Cw-, c+, E-, e+; K-, k+, Kp(a-b+); Jk(a+b+); M+, N-, S-, s+; Fy(a-b-); Le(a- b+); Lu(a-b+); P1+. Aparentemente, parecia se tratar de Auto IgG presente no soro e no eluato, porém um detalhe chamou atenção. A intensidade da auto IgG no eluato era de 2+ em todas as células testadas (gel LISS Coombs) e a intensidade da “auto IgG “ sérica em gel LISS Coombs, variava de 2+ a 3+ em diferentes células, bem como de 4+ em gel NaCl com hemácias papainizadas. O primeiro lote do painel de hemácias utilizados, não apresentava nenhuma célula Fy(a-b-), isso também despertou atenção, já que o paciente apresentava justamente esse fenótipo. Ao testar um novo lote com uma célula Fy(a-b-), verificamos que não houve reação em gel LISS, bem como em gel NaCl. Foram testadas mais seis hemácias Fy(a-b-), todas também se mostraram negativas (gel LISS / NaCl). Realizada aloadsorção, hemácia C- E-; K-; Fy(b+), com o objetivo de verificar a presença de possível aloanticorpo encoberto pelo Anti-Fy3, ao testar o soro aloadsrovido, verificou-se a presença de Anti-C, assim como foi possível descartar demais aloanticorpos. Como resultado final, Liberado Auto IgG indeterminada no eluato (reativo com hemácias C-; Fy(a-b-), além de Anti-Fy3 + Anti-C séricos.

A presença de células Fy(a-b-) em painéis de hemácias, para identificação de anticorpos irregulares no contexto da população brasileira se mostra de suma importância, já que este fenótipo se apresente em cerca de 66% em afrodescendentes, sendo possível identificar Anti-Fy3.