HEMO 2025 / III Simpósio Brasileiro de Citometria de Fluxo
Mais dadosA cultura de fibroblastos da pele é um método de obtenção de DNA germinativo sem contaminação de sangue periférico. Por isso, é considerada ideal para avaliação de predisposição germinativa de doenças onco-hematológicas¹. O procedimento é feito a partir de material de uma biópsia de pele. A qualidade da amostra é avaliada de acordo com a quantidade de material e o tempo entre coleta e chegada ao laboratório. Amostras menores que 5 mm³ são consideradas insuficientes, e aquelas recebidas após 48 horas são consideradas fora do tempo de estabilidade. A quantidade de amostra influencia diretamente o tempo de crescimento celular.
ObjetivosDescrever o processo de cultura de fibroblastos implementado em um laboratório de um hospital terciário especializado em Oncologia e Hematologia, analisar variáveis relacionadas à qualidade das amostras e avaliar a taxa de sucesso do procedimento.
Material e métodosEstudo retrospectivo de 29 amostras submetidas à cultura de fibroblastos no laboratório de citogenética. A cultura foi realizada a partir de fragmento de pele (5 mm³), que foi lavado e fragmentado sob condições estéreis. O material foi distribuído em frascos de cultura T25 e incubado a 37°C com 5% de CO₂. O meio utilizado foi o Amniogrow, trocado periodicamente de acordo com o crescimento celular. Após confluência de 70-80%, as células foram tripsinizadas, lavadas com PBS e centrifugadas. O pellet final foi entregue para extração de DNA.
ResultadosForam realizadas 29 culturas a partir de biópsias de pele, sendo 8 provenientes de outros serviços. Das amostras, 20 foram consideradas adequadas, 7 insuficientes e 2 fora do tempo de estabilidade. Vinte e três culturas foram iniciadas no mesmo dia da coleta, 4 em 24h, 1 em 96h e 1 em 142h; estas duas últimas foram consideradas instáveis. Apenas uma cultura (3,4%) não forneceu DNA suficiente. Vinte e cinco casos foram submetidos à análise molecular, dos quais 3 (12%) apresentaram alterações relevantes. Um caso foi analisado por cariótipo convencional e 2 não seguiram para testes adicionais por serem amostras de validação interna. O tempo médio de crescimento celular suficiente para extração foi de 23 dias. Não houve diferença no tempo de crescimento das amostras de pacientes com doenças mieloides (N=12), linfoproliferativas (N=4) e não malignas (N = 2) (p = 0,9).
Discussão e conclusãoO estudo reforça que a cultura de fibroblastos de pele é um procedimento factível, com alta taxa de sucesso (96,6%). Apenas uma amostra classificada como insuficiente não apresentou crescimento celular adequado, o que evidencia a importância da coleta adequada. Observou-se que a idade mais avançada pode influenciar o tempo de crescimento celular, em concordância com a literatura. A positividade em 12% das análises moleculares demonstra o valor do procedimento como ferramenta complementar no diagnóstico de predisposição germinativa. A cultura de fibroblastos cutâneos apresenta baixa taxa de falha e, embora demande tempo, oferece material confiável para análise de predisposição germinativa. Reforça-se a importância da implantação do processo com atenção às variáveis pré-analíticas, visando o diagnóstico preciso que impacta diretamente no cuidado aos pacientes e no aconselhamento genético de familiares.
Referências:
DeRoin L, Cavalcante de Andrade Silva M, Petras K, et al. Feasibility and limitations of cultured skin fibroblasts for germline genetic testing in hematologic disorders. Hum Mutat. 2022;43(7):950-62.




