HEMO 2025 / III Simpósio Brasileiro de Citometria de Fluxo
Mais dadosO MM é uma neoplasia plasmocitária caracterizada por proliferação clonal na medula óssea (COWAN et al., 2022). Novos fármacos aumentam a sobrevida, e ainda não possuem liberação no Sistema Único de Saúde (SUS). Este relato evidencia os desafios de realizar o tratamento do mieloma no cenário do SUS de uma paciente jovem e com doença agressiva.
Descrição do casoMulher, 52 anos, de Alagoinhas-BA, iniciou em 2021 quadro de dor lombar, lesões osteolíticas e insuficiência renal aguda. Diagnosticada em 16/08/2021 com MM de cadeia leve Kappa (8.600 mg/L) Imunofixação revelou componente monoclonal Kappa; imunohistoquímica positiva para CD138, Kappa. O primeiro esquema (CTD – ciclofosfamida, talidomida, dexametasona – associado a zometa) teve resposta parcial; reduziu a cadeia Kappa para 148 mg/L. No segundo esquema (CyBorD – ciclofosfamida, bortezomibe, dexametasona), houve redução da cadeia Kappa para 71 mg/L, com melhora renal: ureia de 62,30 mg/dL (12/03/2022) para 37 mg/dL (03/12/2022) e creatinina de 1,68 mg/dL para 1,50 mg/dL nas mesmas datas. Ao atingir esse valor, foi indicada para transplante de medula óssea, porém o serviço recusou. Na terceira linha, houve troca da ciclofosfamida por talidomida, com progressão da doença: cadeia Kappa de 187 mg/L (10/05/2023) e 832 mg/L (06/09/2023). O quarto esquema (IKEMA) reduziu rapidamente a cadeia Kappa para 118 mg/L, normalização da creatinina e aumento da hemoglobina. Antes do tratamento (07/06/2024): hemoglobina 9,80 g/dL; ureia 53 mg/dL; creatinina 1,10 mg/dL. Após início (13/11/2024): hemoglobina 11,02 g/dL; ureia 58,6 mg/dL; creatinina 1,17 mg/dL. No quarto ciclo (06/01/2025): hemoglobina 12,10 g/dL. Atualmente (oitavo ciclo) mantém remissão clínica e laboratorial e aguarda transplante autologo de medula óssea. O caso evidencia limitações do SUS no manejo do MM, sobretudo no acesso a terapias como isatuximabe (anticorpo monoclonal anti-CD38, mostrou eficácia em combinação com carfilzomibe e dexametasona) e carfilzomibe (inibidor de proteassoma de segunda geração). Protocolos CTD e CyBorD, padrão no SUS por serem acessíveis, têm eficácia limitada em subtipos agressivos como o mieloma de cadeia leve. Neste relato, a introdução do esquema IKEMA, proporcionou controle sustentado, destacando a urgência de ampliar o acesso a terapias com novas drogas eficazes no tratamento do mieloma.
ConclusãoDessa forma, fica em evidência a urgência de políticas públicas que ampliem o acesso a terapias ainda não disponíveis no SUS para tratamento adequado de casos desafiadores como o mieloma de cadeia leve que aumentem a resposta ao tratamento e sobrevida global.
Referências:
Cowan AJ, Green DJ, Kwok M, Lee S, Coffey DG, Holmberg LA, et al. Diagnosis and management of multiple myeloma: a review. JAMA. 2022;327(5):464–77. doi:10.1001/jama.2022.0003.
Drummond PLM, Miranda PL, Santos RMM, Reis AMM, Malta J, and others. Effectiveness and safety of multiple myeloma treatments based on thalidomide and bortezomib. Cancer Epidemiol. 2023;85:102377. doi:10.1016/j.canep.2023.102377.
Brasil. Ministério da Saúde. O acesso a medicamentos no SUS: desafios e estratégias. Brasília: Fiocruz; 2022.




