HEMO 2025 / III Simpósio Brasileiro de Citometria de Fluxo
Mais dadosPacientes com neoplasias hematológicas têm maior risco de óbito em ambiente hospitalar, elevada carga sintomática e emocional, além de maior exposição a tratamentos intensivos nos últimos dias de vida. Apesar disso, apresentam menor acesso a cuidados paliativos (CP) em comparação aos pacientes com tumores sólidos. Frente a isso, é essencial buscar estratégias que promovam a integração em tempo adequado e de forma efetiva dos CP às neoplasias hematológicas.
ObjetivosEsta revisão tem como objetivo sintetizar as evidências mais recentes sobre a integração dos cuidados paliativos em pacientes com neoplasias hematológicas.
Material e métodosFoi realizada revisão narrativa da literatura na base PubMed a partir de 2020, utilizando os descritores “Palliative AND Hematologic Malignancies”. Foram identificados 410 artigos. Após exclusão de relatos, séries de casos e ensaios clínicos sobre tratamentos específicos, foram incluídos 6 artigos principais e 5 de suas referências, totalizando 11 estudos relacionados à integração de CP em neoplasias hematológicas. Discussão e conclusão: Os estudos analisados evidenciaram benefícios significativos da introdução dos CP em diferentes contextos. Por exemplo, em pacientes com leucemia mieloide aguda de alto risco submetidos à quimioterapia intensiva, uma coorte retrospectiva demonstrou redução de sintomas depressivos (p = 0,04) e de estresse pós-traumático (p = 0,002), e entre aqueles candidatos ao transplante de células-tronco hematopoiéticas com encaminhamento automático para CP, foram obtidos resultados semelhantes (p = 0,024 e p = 0,013, respectivamente). Já no contexto ambulatorial, em outro estudo, foi observada redução importante da dor (p < 0,0001), melhora de sintomas depressivos (p = 0,0001), menor impacto da dor em atividades diárias (p = 0,0001), e melhora na qualidade do sono (p = 0,01) e do humor (p = 0,001). Além disso, com a aplicação de programas direcionados à capacitação de hematologistas e oncologistas em comunicação e abordagem paliativa, houve redução na ansiedade de pacientes (p = 0,02). Nesse sentido, rodízios obrigatórios em CP durante a residência aumentaram a predisposição ao encaminhamento precoce (83%) e a adesão à experiência (95%). A utilização de telemedicina e a produção de conteúdo em plataformas digitais também foram alternativas promissoras para ampliação do conhecimento e para o acesso aos CP. As investigações clínicas evidenciam a viabilidade e os benefícios da integração precoce dos CP às neoplasias hematológicas, com impacto positivo tanto na carga sintomática, quanto no bem- estar dos pacientes. Contudo, ainda apresentam limitações. Os ensaios clínicos foram unicêntricos, não cegos e com amostras restritas, limitando a generalização dos resultados. Especificamente, no estudo retrospectivo, não se pôde excluir o efeito de vieses, como o impacto direto do tratamento antineoplásico sobre os sintomas. Ainda que intervenções educacionais apontem caminhos promissores, os dados sobre sua eficácia são incipientes, e há predominância de oncologistas entre os profissionais avaliados, o que limita a extrapolação aos hematologistas. Embora os resultados iniciais sejam promissores, são necessários estudos mais robustos para validar as melhores estratégias de implementação dos CP em neoplasias hematológicas. A ampliação do acesso em tempo oportuno e a diversidade de abordagens, representam um passo essencial para garantir o cuidado integral centrado no paciente hematológico.




