HEMO 2025 / III Simpósio Brasileiro de Citometria de Fluxo
Mais dadosA sífilis continua sendo um desafio de saúde pública no Brasil. O número de casos da infecção vem aumentando entre homens jovens na população geral, e também em doadores de sangue de primeira vez. A sífilis e o HIV compartilham as mesmas vias de transmissão, e a presença do marcador sorológico para sífilis em candidatos à doação pode indicar maior exposição a comportamentos de risco, e maior probabilidade de infecção pelo HIV.
ObjetivosEste estudo teve como objetivo avaliar a frequência de doações positivas para HIV, HCV e HBV e os fatores associados em amostras com sorologia positiva para sífilis em doadores de sangue.
Material e métodosEstudo retrospectivo do período entre janeiro de 2019 e dezembro de 2023, com análise de 560.528 doações da Fundação Pró-Sangue/Hemocentro de São Paulo. Foram avaliados os resultados de testes de triagem: imunoensaios quimioluminescentes (CMIA) para HIVAg/anti-HIV, HBsAg, anti-HBc total, anti-HCV e anti-Treponema pallidum, e de testes de ácidos nucleicos para HIV, HCV e HBV, assim como testes confirmatórios: Western blot para HIV, CMIA para HBsAb, ensaios de neutralização do HBsAg e VDRL para sífilis. Doadores com diagnóstico positivo para sífilis foram avaliados quanto à presença concomitante de HIV, HCV e HBV. A prevalência da coinfecção sífilis-HIV foi avaliada em conjunto com as variáveis demográficas (sexo, faixa etária, raça e escolaridade) e submetidas ao teste qui-quadrado para avaliação de associações estatísticas (p < 0,05). As amostras que apresentaram coinfecção foram submetidas a um PCR “in house” para Treponema pallidum.
ResultadosDe um total de 560.528 doações, 2.869 apresentaram sorologia positiva para sífilis, definida como resultado positivo na amostra da doação e no retorno, ou resultado positivo na amostra da doação com razão Sinal/Corte (S/CO) ≥ 10,0 no teste CMIA. De 2.869 amostras, 39 foram positivas para HIV, HCV ou HBV, sendo a maior frequência de coinfecções sífilis-HIV (30/39, 76,92%), seguida por sífilis-HCV (7/39, 17,95%) e sífilis-HBV (2/39, 5,13%). A coinfecção foi mais comum em homens (37/39, 94,87%), na faixa etária de 16 a 29 anos (14/39, 35,90%) e em doadores de primeira vez (35/39, 89,74%). A prevalência da coinfecção sífilis-HIV foi de 1,05% dos indivíduos positivos para sífilis e significativamente maior entre os homens em comparação às mulheres (1,81% vs. 0,15%, p < 0,00001). Observou-se também uma maior prevalência da coinfecção sífilis-HIV, porém sem significância estatística, no ano de 2021 (1,40%), na faixa etária de 30 a 39 anos (1,30%), em indivíduos autodeclarados negros (1,97%) e grau universitário (1,19%). Uma amostra 1/39 (2,56%) apresentou resultado positivo na PCR para Treponema pallidum, indicando infecção ativa.
Discussão e conclusãoOs resultados reforçam a associação entre a sífilis e o HIV (1/95 casos sífilis+), evidenciando que a presença de sífilis em doadores sinaliza um grupo com maior vulnerabilidade a infecções sexualmente transmissíveis. A predominância entre homens jovens e doadores de primeira vez pode refletir comportamentos de risco mais frequentes nesses grupos, o que demanda maior atenção nas estratégias de triagem e educação em saúde pública. O monitoramento contínuo dessas coinfecções é fundamental para identificar tendências epidemiológicas e ajustar estratégias de saúde pública, garantindo a segurança do sangue e contribuindo para o controle das infecções sexualmente transmissíveis na população.




