HEMO 2025 / III Simpósio Brasileiro de Citometria de Fluxo
Mais dadosA hematopoiese clonal de potencial indeterminado (CHIP) é caracterizada por mutações somáticas em células-tronco hematopoiéticas, mesmo na ausência de doenças hematológicas aparentes. Estudos recentes mostram que mutações específicas estão associadas à inflamação vascular crônica e ao aumento do risco de doenças cardiovasculares, como infarto, acidente vascular cerebral (AVC) e insuficiência cardíaca. Em pacientes oncológicos, a presença de CHIP também eleva o risco de neoplasias mieloides secundárias, agravando o prognóstico. Assim, a CHIP se destaca como um biomarcador importante de risco cardiovascular e onco-hematológico. Este artigo revisa a literatura sobre os mecanismos que conectam a clonalidade hematopoética à inflamação vascular e suas implicações clínicas.
ObjetivosObjetiva-se analisar a relação entre a clonalidade hematopoética e a inflamação vascular, investigando potenciais implicações cardiovasculares em pacientes com risco onco-hematológico.
Material e métodosTrata-se de uma revisão de literatura baseada nos bancos de dados LILACS, ScienceDirect e PubMed. Foram utilizados os seguintes descritores e operadores booleanos: Hematopoyesis Clonal AND Clonal Hematopoiesis of Indeterminate Potential AND Cardiovascular Diseases. Após leitura criteriosa, foram selecionados dez artigos dos últimos dez anos da área de onco-hematologia.
Discussão e conclusãoA CHIP é portadora de mutações somáticas (VAF ≥ 2%), sendo as mais prevalentes, em diversos estudos, aquelas nos genes DNMT3A, TET2, ASXL1 e JAK2, com influência significativa na incidência de doenças cardiovasculares — principalmente doença arterial coronariana (DAC), insuficiência cardíaca, AVC e arritmias. Na DAC, por exemplo, a CHIP confere risco 1,9 vezes maior. Há elevação nas taxas de mortalidade cardiovascular conforme maior o grau da mutação portada (VAF ≥ 10%), pois mutações específicas, como NLRP3 e AIM2, demonstram influência direta na ativação de inflamassomas, estimulando citocinas pró-inflamatórias, que induzem à aterogênese e disfunção cardíaca. Evidências sugerem uma interação bidirecional entre os fenômenos ateroscleróticos e os mecanismos da CHIP, por meio das condições inflamatórias e cardiovasculares, com contínua estimulação da proliferação de células mieloides hematopoéticas, surgindo novos clones CHIP e gerando um círculo vicioso. Em pacientes com histórico oncológico, detectar a CHIP alerta para o risco de desenvolverem neoplasias mieloides relacionadas à terapia (NMT), com prognóstico agravado, devido ao ambiente hematopoiético lesado. Estas noções reforçam que a CHIP se destaca como biomarcador clínico relevante no manejo do risco cardiovascular para populações expostas a terapias mielotóxicas ou com predisposições onco-hematológicas, atuando como fator de risco independente para a eventos cardiovasculares e aumento da mortalidade. Ademais, é essencial que os conhecimentos sobre os mecanismos inflamatórios da CHIP e suas implicações prognósticas sejam ampliados, para que novas abordagens preventivas e terapias anti-inflamatórias direcionadas sejam desenvolvidas. A existência de iatrogenia hematológica associada às terapias genotóxicas demonstra a necessidade de estratégias de triagem, pauta crucial para futuros estudos, com vistas à formulação de políticas mais precisas de estratificação de risco. A integração desses aspectos pode fortalecer a medicina personalizada e prevenir complicações clínicas relevantes.




