HEMO 2025 / III Simpósio Brasileiro de Citometria de Fluxo
Mais dadosO Mieloma Múltiplo (MM) é uma neoplasia hematológica caracterizada pela proliferação clonal de plasmócitos na medula óssea, com consequente produção de imunoglobulinas monoclonais. Apresenta manifestações clínicas heterogêneas, como anemia, hipercalcemia, insuficiência renal e lesões ósseas líticas. Esses achados, associados a parâmetros laboratoriais e ao estadiamento clínico, constituem importantes preditores prognósticos.
ObjetivosDescrever o perfil epidemiológico e avaliar a Sobrevida Global (SG) de pacientes com MM atendidos em hospital escola no município de Campos dos Goytacazes (RJ).
Material e métodosEstudo observacional, retrospectivo, baseado na revisão de prontuários de pacientes diagnosticados com MM entre 2018 e 2024, conforme critérios do International Myeloma Working Group. A coleta de dados foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa, incluindo registro na plataforma Zoho e análise descritiva no Microsoft Excel. As variáveis avaliadas incluíram dados sociodemográficos, laboratoriais, radiológicos, estadiamento pelo International Staging System (ISS) e Sobrevida Global (SG). A análise de sobrevida foi realizada pelo método de Kaplan- Meier, com comparação entre grupos por meio do teste de log-rank, estimativa do Hazard Ratio (HR) e respectivos Intervalos de Confiança de 95% (95% IC), utilizando o software R.
ResultadosForam incluídos 103 pacientes com MM, sendo 46,6% do sexo masculino, 57,3% com até 70 anos. Quanto a raça, 54,4% eram brancos, 31,1% pardos e 14,4% negros. O subtipo monoclonal predominante foi IgG (68,8%), seguido por IgA (13,5%), cadeia leve lambda isolada (11,5%), cadeia leve kappa isolada (5,2%) e biclonalidade (1%). O estadiamento ISS mostrou predomínio de ISS 3 (38,6%), seguido por ISS 2 (31,6%) e ISS 1 (29,8%). Hemoglobina < 10 g/dL foi observada em 40,2% dos casos; hipercalcemia em 5,3%; creatinina ≥ 2,0 mg/dL em 16,3%; LDH elevado em 38,8%; e lesões ósseas líticas em 78,4%. Na data de corte, 62,2% estavam vivos, 24,5% haviam falecido e 13,3% estavam em perda de seguimento. A mediana de SG foi de 70,8 meses. Pacientes com ISS 2–3 apresentaram SG mediana de 50,9 meses, significativamente inferior à do ISS 1 (mediana não alcançada; HR = 2,89; 95% IC 1,27–6,56; p = 0,008). Idade > 70 anos associou-se a menor SG (70,8 meses vs. não alcançada; HR = 2,89; 95% IC 1,27–6,56; p = 0,008). Hemoglobina < 11 g/dL também se associou a pior SG (55,3 meses vs. não alcançada; HR = 4,17; 95% IC 1,23–14,09; p = 0,01). Houve tendência de pior prognóstico em pacientes com creatinina ≥ 2 mg/dL (HR = 2,70; 95% IC 0,94–7,71; p = 0,05).
Discussão e conclusãoNeste estudo, observou-se elevada diversidade étnica e alta prevalência de casos diagnosticados em estágios avançados, possivelmente associada a atraso diagnóstico ou dificuldades de acesso a serviços especializados. O predomínio do subtipo IgG, assim como a alta frequência de anemia, LDH elevado e lesões líticas, está em consonância com dados da literatura. A análise de sobrevida confirmou que ISS avançado, idade >70 anos, anemia e creatinina elevada associam-se a pior prognóstico, reforçando o papel desses parâmetros na estratificação de risco. Esses resultados ressaltam a importância de estratégias voltadas ao diagnóstico precoce e ao manejo individualizado, especialmente em populações heterogêneas como a estudada. A identificação antecipada de fatores de risco pode subsidiar decisões terapêuticas mais assertivas, otimizar o acompanhamento e, potencialmente, melhorar os desfechos a longo prazo.




