HEMO 2025 / III Simpósio Brasileiro de Citometria de Fluxo
Mais dadosO antígeno RhD é altamente polimórfico e de grande relevância clínica na prática transfusional. A hemaglutinação fraca pode ocultar variantes capazes de induzir aloimunização em pacientes transfundidos ou gestantes.
ObjetivosEstimar a prevalência de variantes RhD na população atendida, comparar a reatividade dos reagentes utilizados na rotina e propor protocolo de triagem imuno-hematológica que dispense genotipagem.
Material e métodosEstudo observacional e transversal realizado na Agência Transfusional do Hospital Unimed Piracicaba entre abril e agosto de 2024. Foram incluídos pacientes com solicitação transfusional e gestantes. A tipagem RhD foi realizada por método convencional em tubo, com dois reagentes monoclonais (Anti-D IgM e Anti-D Blend IgG+IgM). Amostras com discrepância entre os reagentes, aglutinação fraca (< 2+) ou positividade na pesquisa de D fraco foram genotipadas por PCR multiplex.
ResultadosForam realizadas 2.283 tipagens RhD. Destas, 270 (11,8 %) apresentaram resultado RhD negativo, enquanto 2.013 (88,2 %) foram classificadas como RhD positivas. Não houve discrepância entre os reagentes monoclonais. Três casos (0,13% do total RhD positivos) apresentaram aglutinação < 2+ e foram submetidos ao estudo molecular. A genotipagem identificou duas variantes D fraco (tipos 1 e 3) e um genótipo RHD*1 com pseudogene negativo (fenótipo deduzido RhD positivo).
Discussão e conclusãoAs variantes D fraco tipo 1 e 3 representam formas de expressão quantitativamente reduzida do antígeno D, sem alteração de epítopos principais. Portanto, não são consideradas imunogênicas em situações transfusionais ou gestacionais. A aglutinação sorológica fraca observada no caso com genótipo RhD*1, sem mutações associadas a expressão parcial, pode ser atribuída à densidade antigênica diminuída - fenômeno descrito na literatura, especialmente em recém-nascidos e indivíduos imunocomprometidos. Embora o presente estudo não tenha identificado variantes RhD associadas a risco de aloimunização, não se descarta a possibilidade de expressão parcial do antígeno D em amostras com reatividade fraca. O reconhecimento dessas situações é essencial, uma vez que fenótipos RhD parciais podem levar a formação de aloanticorpos anti-D quando tratados como RhD positivos. A baixa frequência de tipagens com aglutinação < 2+ reforça a viabilidade de protocolos baseados na intensidade de reação, sobretudo em serviços com limitações para genotipagem molecular. Diretrizes nacionais e internacionais recomendam que, na ausência de confirmação por biologia molecular, indivíduos com expressão reduzida do antígeno D sejam tratados como RhD negativos para fins transfusionais e obstétricos. A avaliação da intensidade de aglutinação é um critério seguro e custo-efetivo para triagem de possíveis variantes RhD. A conduta de considerar como RhD negativos os pacientes e gestantes com aglutinação < 2+, contribui para a prevenção da aloimunização. No entanto, recomenda-se que cada serviço de hemoterapia analise sua realidade local, considerando perfil populacional, demanda transfusional e disponibilidade de hemocomponentes RhD negativos, a fim de adotar conduta segura sem comprometer a sustentabilidade do estoque e a assistência prestada.





