HEMO 2025 / III Simpósio Brasileiro de Citometria de Fluxo
Mais dadosA Anemia Falciforme (AF) é uma doença hereditária caracterizada por hemólise, anemia, inflamação crônica e danos aos órgãos. O heme livre, liberado na hemólise, atua como uma molécula inflamatória desencadeando a ativação de plaquetas, leucócitos e células endoteliais. Neutrófilos de pacientes com AF apresentam um fenótipo pró-inflamatório, marcado pela produção exacerbada de espécies reativas de oxigênio (ROS) e liberação de armadilhas extracelulares (NETs), processos associados às crises vaso-oclusivas e disfunção de órgãos. Estudos recentes demonstraram que o heme pode causar reprogramação metabólica de macrófagos, provendo um perfil pró-inflamatório sustentado via remodelamento mitocondrial. No entanto, os efeitos do heme sobre o metabolismo de neutrófilos permanece pouco explorado.
ObjetivosAvaliar a influência do heme no metabolismo de neutrófilos.
Material e métodosEste projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da UNICAMP, CAAE 84501924.2.0000.5404. Granulócitos de indivíduos saudáveis foram isolados do sangue total por gradiente de densidade Ficoll e incubados (2 × 10⁶ células/mL) em condição basal (RPMI) ou com heme (50 µM) por 1 hora a 37°C. A produção de superóxido mitocondrial (mROS) e a captação de glicose foi quantificada nos neutrófilos viáveis (CD66b+7AAD-) por citometria de fluxo, utilizando as sondas MitoSox e 2-NBDG, respectivamente. Os dados foram analisados em porcentagem e intensidade média de fluorescência (MFI).
ResultadosEm relação às células não estimuladas (basal), o heme aumentou significativamente a porcentagem de neutrófilos positivos para 2-NBDG, indicando maior captação de glicose por neutrófilo (basal: 27,63 ± 12,8; heme: 48,53 ± 17,22; p = 0,031). Esse aumento também foi observado na MFI da sonda 2-NBDG (basal: 15,68 ± 0,87; heme: 24,45 ± 5,81; p = 0,019), reforçando que o heme estimula a entrada de glicose nos neutrófilos. Além disso, o heme induziu um aumento significativo de neutrófilos positivos para MitoSox (basal: 24,18 ± 17,11; heme: 45,44 ± 17,21; p = 0,004), assim como o aumento da MFI da sonda nessa população (basal: 9,89 ± 0,95; heme: 16,33 ± 3,73; p = 0,010), indicando maior produção de mROS em neutrófilos ativados por heme. A análise combinada entre os marcadores 2-NBDG e MitoSox nos neutrófilos viáveis revelou um aumento significativo da população duplo-positiva após a estimulação com heme (basal: 20,85 ± 9,42; heme: 49,27 ± 18,5; p = 0,006).
Discussão e conclusãoEsses dados indicam que o heme, liberado em doenças hemolíticas como a AF, modula simultaneamente a captação de glicose e o estresse oxidativo mitocondrial em neutrófilos, sugerindo uma possível reprogramação metabólica, podendo influenciar diretamente a sua função e contribuir para a amplificação da inflamação. No contexto da AF, onde os neutrófilos desempenham papel central nos processos vaso- oclusivos, compreender como o heme modula o metabolismo dessas células é fundamental para elucidar os mecanismos patológicos associados à hemólise e revelar novas estratégias para atenuar as complicações inflamatórias da doença.




