A malária é uma doença infecciosa febril aguda causada por protozoários do gênero Plasmodium, transmitida principalmente pela picada de mosquitos do gênero Anopheles. a possibilidade de transmissão transfusional torna-se uma preocupação relevante para os serviços de hemoterapia em todo o país. A triagem clínica e epidemiológica de doadores é a principal estratégia de mitigação do risco de transmissão de malária por transfusão. No entanto, a crescente mobilidade populacional, o turismo em áreas endêmicas e o aumento de migrantes oriundos de regiões com alta prevalência da doença impõem desafios adicionais à segurança transfusional. Neste contexto, torna- se fundamental avaliar a incidência de malária entre candidatos à doação e identificar possíveis lacunas nos protocolos de triagem.

Este estudo tem como objetivo analisar a incidência de casos suspeitos ou confirmados de malária em doadores atendidos pelo Banco de Sangue de São Paulo (BSSP), considerando aspectos clínicos, epidemiológicos e geográficos. A análise visa contribuir para o aprimoramento das estratégias de triagem e reforçar as medidas preventivas de segurança hemoterapica.

A análise retrospectiva, com base nos dados de triagem clínica do Banco de Sangue de São Paulo, evidenciou baixa frequência de inaptidões temporárias por deslocamento a áreas endêmicas de malária. A aplicação da inaptidão temporária de 12 meses, conforme previsto na legislação vigente, impacta significativamente na aptidão dos candidatos a doação de sangue contribuindo para a redução dos estoques de hemocomponentes.

O presente estudo retrospectivo e descritivo baseou-se na análise dos registros de triagem clínica realizados nos anos de 2023 e 2024 no Banco de Sangue de São Paulo (BSSP). Os dados demonstram que o impacto da malária sobre a elegibilidade dos doadores foi relativamente discreto durante o período analisado. Em 2023, foram registradas 226 inaptidões temporárias por deslocamento a áreas endêmicas de malária, representando uma média mensal de aproximadamente 0,33% das triagens realizadas. Em 2024, esse número apresentou leve aumento absoluto, totalizando 275 casos; no entanto, a proporção mensal foi ligeiramente inferior, correspondendo a cerca de 0,25% das recusas registradas. Esse padrão de estabilidade entre os dois anos analisados sugere que, embora a malária permaneça como um critério relevante de triagem epidemiológica, sua influência sobre a captação de doadores em São Paulo (uma região considerada não endêmica) permanece limitada. Apesar do impacto quantitativo relativamente baixo, a manutenção de critérios rigorosos de avaliação epidemiológica continua sendo essencial. A transmissão transfusional da malária, ainda que rara, representa um risco significativo à segurança dos receptores de hemocomponentes. Além disso, o monitoramento contínuo dessas inaptidões pode fornecer subsídios importantes para a revisão de protocolos de triagem e para o fortalecimento de ações educativas direcionadas aos candidatos à doação, especialmente em períodos de maior mobilidade populacional, como férias escolares, feriados prolongados e sazonalidades migratórias.

A incidência de inaptidões temporárias por exposição à malária no BSSP foi estável e com baixo impacto entre 2023 e 2024. Apesar da baixa representatividade, a triagem rigorosa é essencial para a segurança transfusional. O monitoramento contínuo apoia ações mais eficazes de prevenção e orientação aos doadores.