HEMO 2025 / III Simpósio Brasileiro de Citometria de Fluxo
Mais dadosA anemia falciforme (AF) é uma doença monogênica causada pela herança em homozigose de uma mutação de ponto no gene da globina β, a qual resulta na formação da hemoglobina anômala S (HbS). Em condições de hipóxia, a HbS tende à formação de polímeros, processo que confere às hemácias o formato de foice. Essa característica é responsável pela obstrução de pequenos vasos, bem como pelo quadro hemolítico da doença, que desencadeia crises de dor intensa e as demais complicações clínicas da AF. As manifestações clínicas variam desde crises vaso-oclusivas (CVO) até complicações cerebrovasculares como o acidente vascular cerebral (AVC) e a partir dessa heterogeneidade fenotípica percebe-se a relevância da investigação de marcadores genéticos específicos que possam auxiliar em uma melhor conduta terapêutica dos pacientes. As metaloproteinases de matriz (MMPs) são uma família de enzimas proteolíticas que são essenciais em processos fisiológicos como angiogênese, remodelação e reparo tecidual e também estão envolvidas em processos inflamatórios, de proliferação e diferenciação celular. Nesse sentido, polimorfismos no gene da MMP2 já se mostraram associados com diversas complicações em outras doenças e por isso se destaca como possível moduladora das complicações clínicas da AF.
ObjetivosEste trabalho teve como objetivo investigar a possível associação entre polimorfismos no gene MMP2 com as complicações em pacientes com anemia falciforme.
Material e métodosFoi selecionado o SNP (single nucleotide polymorphism) rs243568 do gene MMP2 e foram incluídos no estudo indivíduos adultos acompanhados na Fundação de Hematologia e Hemoterapia de Pernambuco (HEMOPE) (CAAE: 46931121.3.0000.5208). A genotipagem do SNP rs243865 foi realizada pela técnica de PCR em tempo real utilizando sondas TaqMan e a análise estatística foi feita pelo software SPSS Statistics 21.0. Por fim, os dados clínicos, assim como os laboratoriais, foram obtidos por meio da análise dos prontuários médicos, onde foram coletadas as frequências das complicações clínicas (CVOs por ano, priapismo, síndrome torácica aguda, osteonecrose, úlceras de perna e AVC).
ResultadosOs 431 pacientes incluídos no estudo apresentaram a mediana de 34 anos de idade (variação: 18-69), 52,2 % eram do sexo feminino e 47,8 % do sexo masculino. De acordo com a genotipagem do rs243865 foi observado que 336 (78%) pacientes tinham genótipo homozigoto selvagem (CC), 84 (19,5%) tinham genótipo heterozigoto (CT) e 11 (2,5%) tinham genótipo variante (TT). Os resultados mostraram que o polimorfismo rs243865 não está associado com o desenvolvimento de nenhuma complicação clínica estudada (p > 0,05). Porém os pacientes com genótipo TT apresentaram associação com níveis maiores de Hb (p = 0,020) e uma tendência estatística à apresentarem valores mais elevados de hematócrito (p = 0,070).
Discussão e conclusãoEsses achados indicam hipóteses sobre um possível papel protetor do alelo variante herdado em homozigose sobre o perfil laboratorial desses pacientes. Porém, a baixa frequência do genótipo TT foi uma limitação deste estudo para validação desse achado. Assim, estudos futuros analisando populações distintas seriam interessantes para esclarecer a influência desse SNP no perfil clínico de pacientes com anemia falciforme.




