HEMO 2025 / III Simpósio Brasileiro de Citometria de Fluxo
Mais dadosA Leucemia Linfocítica Crônica (LLC) é uma neoplasia linfoproliferativa de células B maduras CD5+, geralmente assintomática em seus estágios iniciais, mas com evolução clínica heterogênea. Afeta predominantemente homens brancos com mais de 60 anos, sendo comumente identificada em exames laboratoriais de rotina. O diagnóstico baseia-se na citometria de fluxo, e o estadiamento segue os sistemas de Rai e Binet. Alterações genéticas, como mutações em TP53 e cariótipos complexos, estão associadas a pior prognóstico.
ObjetivosAnalisar o perfil clínico, laboratorial, citogenético e de imunofenotipagem de pacientes com LLC em um hospital de referência em Belém-PA.
Material e métodosEstudo transversal com 46 pacientes diagnosticados com Leucemia Linfocítica Crônica (LLC) entre 2017 e 2019. As informações foram obtidas por meio da revisão de prontuários médicos, abrangendo dados demográficos, clínicos, hematológicos, citogenéticos e imunofenotípicos. As variáveis foram analisadas por frequências absolutas e relativas, e as associações clínicas e laboratoriais com marcadores citológicos e imunofenotípicos foram avaliadas por testes de qui-quadrado.
ResultadosA maioria dos pacientes tinha mais de 60 anos (média de 61,2), com discreto predomínio masculino e maior frequência da etnia parda, proveniente do interior do estado, e poucos apresentavam histórico familiar ou pessoal de câncer. O sinal clínico mais frequente foi esplenomegalia. Laboratorialmente, 50% tinham anemia, 23,9% plaquetopenia e cerca de ⅓ apresentava linfocitose >50.000/mm3. A citometria de fluxo confirmou o padrão clássico de LLC (CD5, CD19, CD23 e CD200). Em relação às alterações genéticas, a deleção 13q foi a mais comum. 26 não apresentaram anomalias cromossômicas.
Discussão e conclusãoDiferente da literatura internacional, os pacientes já apresentavam sintomas ao diagnóstico, como sintomas B, esplenomegalia, astenia e linfadenopatia. A linfocitose foi a principal alteração laboratorial associada a mau prognóstico. A expressão de CD38 foi associado à presença de linfadenopatia, e CD79b, relacionado à menor mortalidade e à ausência de linfadenopatia (p < 0,036). Em relação às alterações genéticas, a deleção 13q foi a mais comum, associada a melhor prognóstico. A ausência da del17p se associou à menor mortalidade, como esperado. Curiosamente, a presença da deleção TP53 também foi associada à menor mortalidade, o que contradiz a literatura e pode refletir limitações do estudo, como a ausência de testagem completa para mutações em TP53. A trissomia do cromossomo 12 foi significativamente associada à maior necessidade de tratamento específico (p < 0,02), embora seu impacto terapêutico direto ainda não esteja totalmente estabelecido. Pacientes sem del13q e delTP53 não apresentaram hepatoesplenomegalia, embora houvesse significância estatística entre essas deleções e plaquetopenia. 45,6% apresentavam comorbidades, o que pode influenciar negativamente o prognóstico. Este estudo destaca a relevância da análise integrada de parâmetros clínicos, hematológicos, imunofenotípicos e genéticos na LLC. Os achados contribuem para uma melhor compreensão da doença em populações da região Norte, onde há escassez de dados, podendo auxiliar no direcionamento terapêutico e no prognóstico individualizado.
Referências:
Parikh SA, Gale RP, Kay NE. Chronic lymphocytic leukemia in 2020: a surfeit of riches? Leukemia. 2020;34:1979-83. doi:10.1038/s41375-020-0825-6.
Tejaswi V, Lad DP, Jindal N, Prakash G, Malhotra P, Khadwal A, et al. Chronic lymphocytic leukemia: real-world data from India. JCO Glob Oncol. 2020;6:866-72. doi:10.1200/GO.20.00123.




