HEMO 2025 / III Simpósio Brasileiro de Citometria de Fluxo
Mais dadosA Neoplasia mielodisplásica (SMD), câncer de medula óssea mais comum no idoso, é caracterizada por alta instabilidade genômica decorrente de lesões no DNA e erros nos mecanismos de reparo, incluindo o sistema de síntese de translesão (TLS), que é mediado por DNA polimerases responsáveis por contornar lesões durante a replicação, evitando mutações drivers. A presença de variantes em regiões canônicas de splicing (sítios doador e aceptor) nesses genes são descritas como eventos precoces que contribuem para o fenótipo displásico das neoplasias hematológicas, pois podem gerar transcritos aberrantes.
ObjetivosDescrever variantes em genes dos mecanismos de síntese TLS do DNA e quais predições patogênicas dessas variantes em regiões de splicing destes genes na SMD.
Material e métodosO estudo analisou amostras de medula óssea de 30 pacientes com SMD: 13 com excesso de blastos (SMD-EB) e 17 com sideroblastos em anel (SMD-SA), submetidas a sequenciamento de nova geração (NGS), através de um painel-alvo customizado, com profundidade de cobertura mínima de 500x e 98% de cobertura horizontal dos genes das Polimerases TLS: POLI, POLQ, POLL, POLN, POLM, REV1, POLH e REV3L. O alinhamento e a chamada de variantes foram realizados através da plataforma Dragen (Illumina), a anotação foi realizada utilizando-se a plataforma EnsemblVEP e a análise de patogenicidade foi realizada através do software SpliceAI, sendo priorizadas variantes com delta escore ≥0,8 (patogênicas).
ResultadosForam identificadas 11 variantes com potencial impacto em sítios doadores ou aceptores de splicing em 20 dos 30 pacientes (66,6%), classificadas como patogênicas através do SpliceAI. O maior número de casos foi detectado no gene POLI que apresentou duas variantes, uma na região aceptora e outra na região doadora com variante de frequência alélica (VAF) superior a 36%. As variantes identificadas de POLI foram mais observadas em SMD-EB (80%) do que na SMD-SA. O gene POLN apresentou três variantes em região aceptora, sendo em dois casos de SMD-EB e um caso de SMD-SA. O gene POLQ apresentou uma variante em região doadora na SMD-EB. Já o gene REV1 apresentou duas variantes na região aceptora também na SMD-EB. Por outro lado, tanto o gene POLL quanto POLM apresentaram variantes na SMD-SA, sendo duas variantes na região aceptora de POLL e uma variante na região doadora de POLM.
Discussão e conclusãoEste é o primeiro trabalho a estudar variantes nas regiões canônicas de splicing dos genes TLS na SMD. Apesar do número limitado de casos, os achados sugerem que alterações em POLI, POLQ, POLN e REV1 podem associar-se a fenótipos de maior gravidade, pois as variantes nestes genes foram associadas à maior dependência transfusional e à pacientes de alto risco. Nos casos de SMD-SA, subtipo que possui menor agressividade clínica e forte associação a mutações em genes de splicing, a presença de variantes nos genes POLL e POLM sugere alterações no mecanismo de splicing na célula. Dessa forma, a presença de variantes patogênicas nas regiões de splicing de DNA polimerases com atividade TLS sugere que estes genes podem ser alvo de variações nos mecanismos de splicing da SMD, e uma vez afetados pela presença de variantes patogênicas, podem levar a alterações no splicing alternativo, gerar transcritos disfuncionais e impedir o mecanismo de síntese translesão responsável pela estabilidade genômica. Nossos achados demonstram a necessidade de estudos mais amplos para elucidar o papel prognóstico de DNA polimerases TLS na SMD.




