HEMO 2025 / III Simpósio Brasileiro de Citometria de Fluxo
Mais dadosA amiloidose ATTR hereditária é frequentemente relacionada a mutações específicas, como a VAL142ILE, que altera a estrutura da proteína TTR, facilitando seu acúmulo nos tecidos, especialmente no coração. Essa mutação tende a causar uma apresentação precoce e progressiva da doença, com envolvimento predominantemente cardíaco, sendo o acometimento do sistema neurológico periférico mais raro. A amiloidose de cadeias leves é uma condição em que proteínas de cadeias leves de imunoglobulinas se depositam nos tecidos. As manifestações mais comuns incluem envolvimento renal e sistema nervoso periférico, com neuropatia sensitivo-motora, com sintomas como formigamento, fraqueza e perda de sensibilidade nas extremidades. Pode ocorrer cardiomiopatia infiltrativa com insuficiência cardíaca, dispneia e fadiga. A variedade de manifestações depende do grau e do padrão de deposição de amiloide, tornando o diagnóstico desafiador e muitas vezes dependente de exames específicos.
Descrição do casoPaciente do sexo masculino, 61 anos, apresenta desde 2022 sintomas constitucionais - perda ponderal (20kg) e fadiga, além de sintomas neurológicos como parestesia de extremidades e dor neuropática, disautonomia manifestada como hipotensão postural. Na investigação com eletroneuromiografia apresenta neuropatia moderada do nervo mediano no pulso à direita, compatível com síndrome do túnel do carpo moderada, e ainda sinais de neuropatia periférica sensitivo-motora difusa predominantemente axonal. Na investigação de outros sistemas, paciente com ecocardiograma com discreto aumento da espessura septal (10-12 mm) com função diastólica alterada. RM cardíaca sem sinais de fibrose miocárdica e a cintilografia com pirofosfato sem captação do traçador. Os biomarcadores cardíacos levemente alterados – troponina 34 e BNP de 375. Em investigação de amiloidose AL, foi detectada alteração na relação de frações livres de imunoglobulinas (FLC 11,8 – Kappa 23,6/ Lambda 2), com eletroforese sem pico monoclonal, sem evidência de plasmocitose clonal em mielograma e biópsia de medula óssea. Biópsias de glândula salivar e pele foram realizadas com espectrometria de massa, sendo a primeira positiva para depósitos de amiloide por cadeia leve kappa, compatível com amiloidose AL. Realizou pesquisa genética com presença da mutação ATTR variante VAL142ILE configurando também diagnóstico de amiloidose ATTR hereditária. O paciente iniciou tratamento com tafamidis para a amiloidose ATTR, devido à mutação hereditária identificada. Ainda aguarda confirmação diagnóstica de amiloidose AL por espectrometria de massa de biópsia sural, que está em andamento para definição se o acometimento neurológico é secundário ao depósito amiloide por cadeias leves ou por transtirretina, a fim de estabelecer melhor definição terapêutica visto a possibilidade de iniciar terapia específica para AL com esquema quimioterápico, dependendo do resultado.
ConclusãoDe acordo com a Mayo Clinic, o tratamento da amiloidose AL envolve a redução da produção de cadeias leves anormais com quimioterapia semelhante à usada em mieloma múltiplo (bortezomibe, ciclofosfamida e dexametasona), podendo reduzir as manifestações de tecidos acometidos, como o neurológico. Além disso, terapias específicas que estabilizam ou removem o amiloide, como o tafamidis no caso de ATTR, podem ser indicadas no caso em questão visto a presença de mutação relacionada e à dificuldade de estabelecer qual o depósito amiloide responsável pela manifestação de sintomas.




