HEMO 2025 / III Simpósio Brasileiro de Citometria de Fluxo
Mais dadosA Leucemia Mieloide Aguda (LMA) representa uma das neoplasias hematológicas mais complexas e agressivas, caracterizada pela proliferação descontrolada de células progenitoras mieloides na medula óssea, podendo ser advinda de uma desregulação hematopoiética primária ou a partir da evolução de uma outra neoplasia hematológica, como a leucemia mieloide crônica (LMC). Esta doença possui uma patogênese molecular heterogênea, onde mutações genéticas desempenham papéis fundamentais no desenvolvimento, determinação do prognóstico e resposta terapêutica. O entendimento dessas alterações genéticas tem revolucionado a abordagem diagnóstica e terapêutica da LMA, permitindo a estratificação de risco mais precisa e o desenvolvimento de tratamentos personalizados.
ObjetivosIdentificar e descrever, com base na literatura cientifica, os principais genes envolvidos na evolução de leucemia mieloide crônica para leucemia mieloide aguda.
Material e métodosFoi realizada uma revisão exploratória da literatura. Os critérios de inclusão englobaram artigos publicados em inglês e português entre 2016 e 2025, que abordassem genes envolvidos na progressão de LMC para LMA. Foram excluídos estudos repetidos, incompletos e fora do escopo da revisão.
Discussão e conclusãoAlterações genéticas em FLT3, particularmente as mutações de duplicação interna em tandem (FLT3-ITD), constituem um marcador robusto de mau prognóstico, frequentemente associado a maior taxa de recidiva, menor sobrevida global e rápida progressão da doença. Essas mutações promovem sinalização constitutiva via RAS/MAPK e PI3K/AKT, favorecendo proliferação celular descontrolada e resistência terapêutica. O advento dos inibidores de tirosina quinase de segunda e terceira geração tem modificado este cenário, com evidências de melhora significativa nas taxas de resposta, sobretudo quando combinados à quimioterapia convencional. As alterações no gene NPM1 conferem um fenótipo clínico e biológico peculiar. Quando presentes isoladamente, associam-se a melhor prognóstico e maior taxa de resposta à quimioterapia padrão; todavia, essa vantagem prognóstica é revertida quando há coocorrência com FLT3-ITD, resultando em evolução mais agressiva e pior sobrevida. Essa interação evidencia a relevância da estratificação de risco integrada, contemplando o perfil mutacional completo para guiar decisões terapêuticas personalizadas. Mutações no TP53 representam achados desfavoráveis, caracterizando um subtipo de LMA biologicamente agressivo, altamente resistente à quimioterapia convencional. O comprometimento da via p53 confere evasão apoptótica e instabilidade genômica acentuada. Estratégias emergentes incluem combinações de venetoclax com agentes hipometilantes, além do desenvolvimento de imunoterapias específicas, como anticorpos biespecíficos e terapias com células CAR-T direcionadas a antígenos mieloides. No contexto específico da progressão da LMC para LMA, destacam-se as mutações secundárias como eventos-chave na transformação leucêmica. Genes como RUNX1 (envolvido na regulação da hematopoese), ASXL1 (modulação epigenética) e TET2 (metilação do DNA) atuam como drivers dessa evolução clonal, frequentemente emergindo durante a fase acelerada ou blástica. Esses achados reforçam a importância do monitoramento molecular longitudinal em pacientes com LMC, permitindo a detecção precoce de alterações de alto risco e a intervenção terapêutica antecipada para prevenir ou retardar a transformação para LMA.




