Uma bolsa de sangue pode ser fracionada em hemocomponentes como o (CPs). Os CPs são indicados para transfusão em casos de plaquetopenia ou disfunção plaquetária. Por serem mantidos à temperatura ambiente (22 ± 2°C) e sob constante agitação, os CPs podem sofrer lesões de estoque. Essas lesões comprometem a qualidade dos CPs pois implicam em alterações bioquímicas e funcionais indesejadas. A contaminação de CPs por hemácias não é ideal, especialmente pelo risco aumentado de aloimunização. A irradiação é um processo pelo qual os CPs podem passar, com a finalidade de diminuir as chances da reação transfusional conhecida como doença do enxerto contra o hospedeiro (DECH). A contaminação de CPs com hemácias e a irradiação podem acelerar o surgimento de lesões de estoque.

Avaliar alterações bioquímicas em plasma pobre em plaquetas (PPP) oriundos de CPs irradiados e/ou contaminados com hemácias, entre o dia do processamento (D0) e último dia de validade (D5), e relacioná-las com a qualidade deste hemocomponente.

O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da UFSM, conforme parecer n° 5.959.387 (CAAE: 67871122.0000.5346). Foram utilizados 40 CPs, divididos em 4 grupos experimentais (N = 10): CPs controles (CPC), CPs irradiados (CPI), CPs com hemácias (CPH) e CPs irradiados e com hemácias (CPIH). O sangue total foi coletado em bolsas triplas contendo CPDA-1 (Fresenius Kabi) e processado pelo método de plasma rico em plaquetas (PRP) para obtenção dos CPs. Os CPs foram armazenados sob constante agitação, à temperatura de 22 ± 2°C por 5 dias. A irradiação foi realizada no dia 0 (D0), com dose de 25 Gy aplicada sobre o plano médio das bolsas. Os CPs com hemácias apresentaram, em média, 4,9 × 10⁶ eritrócitos/mL. O PPP dos CPs foi obtido por centrifugação (3500 rpm/10 min) e aliquotado para a realização dos ensaios de pH (potenciometria), grau de hemólise (espectrofotometria, conforme Magno et al., 2017), dosagens de ácido úrico (UAc), cálcio (Ca), cloreto (Cl), glicose (Gli), magnésio (Mg), fosfato (PO4) e proteínas totais (PT), além da atividade da fosfatase alcalina (FAL) e lactato desidrogenase (LDH), conforme instruções do fabricante dos kits bioquímicos empregados. Para a comparação entre D0 e D5 para cada grupo foi empregado teste t pareado utilizando GraphPad Prism® 5. Valores de p < 0,05 foram considerados significativos.

Não houve alteração do grau de hemólise ou nos valores de pH, que se mantiveram acima de 6,4. As concentrações de Ca, Gli e PT não se alteraram entre D0 e D5, assim como a atividade da FAL. Concentrações de UAc foram diminuídas no D5 para CPIH (p < 0,001). Para os íons Cl houve aumento da concentração em D5 para CPI (p = 0,032). As concentrações de Mg foram elevadas no D5 apenas para CPC (p = 0,0107) enquanto PO4 aumentou para CPI (p < 0,05) e CPIH (p < 0,01) no D5. Além disso, a atividade da LDH foi aumentada em todos os grupos, no entanto, o aumento maior ocorreu nos grupos CPI e CPIH (p < 0,001).

As principais variações aconteceram nos CPs irradiados. A elevação das concentrações de eletrólitos e o aumento da atividade da LDH sinalizam maior dano/lise celular como lesões de estoque relacionadas à irradiação, mas sem maiores prejuízos à qualidade dos CPs. Agradecemos à BioClin pela doação dos kits bioquímicos utilizados no projeto.