HEMO 2025 / III Simpósio Brasileiro de Citometria de Fluxo
Mais dadosA Leucemia Linfocítica Crônica (LLC) é uma doença caracterizada por heterogeneidade biológica e clínica significativa. Enquanto a maioria dos pacientes apresenta um curso indolente, alguns podem apresentar manifestações mais agressivas, com resistência ao tratamento e redução na sobrevida.
ObjetivosO objetivo deste estudo foi identificar alterações cromossômicas detectadas por hibridização in situ por fluorescência (FISH) em pacientes com diagnóstico de LLC e correlacioná-las com o prognóstico da doença.
Material e métodosFoi realizada uma análise retrospectiva de pacientes com diagnóstico de LLC acompanhados ambulatoriamente no Hospital das Clínicas da UFPR, entre janeiro de 2006 e junho de 2024. Utilizou-se a análise cromossômica por bandeamento G convencional e o protocolo FISH em células fixadas de sangue periférico, conforme as instruções do fabricante. O painel utilizado foi o Vysis CLL FISH probe (Abbott, USA), que inclui quatro sondas: LSI ATM (11q22.3), LSI TP53 (17p13.1), CEP12 (12p11.1-q11), LSI D13S319 (13q14.3 e 13q34). Os laudos foram elaborados de acordo com a nomenclatura internacional (ISCN, 2016).
ResultadosForam analisadas amostras de sangue periférico de 52 pacientes com LLC (30 homens, 22 mulheres), idade mediana 65 anos (24–92) e seguimento mediano 4,8 anos (0,15–27). Segundo a classificação de Binet: 30 foram classificados como A, 9 como B e 13 como C. Houve diferenças significativas entre grupos Binet na hemoglobina, plaquetas e leucócitos (p < 0,05). A citometria de fluxo mostrou padrão típico (CD5, CD23, CD200 positivos; CD22, CD79a, IgM, FMC7 negativos/baixa expressão). A citogenética convencional foi realizada em 47 pacientes (88,7%), com alterações em 16. O FISH foi realizado em todos os pacientes e detectou alterações em 48 (87,3%): del(13q) em 37 (67,3%), trissomia 12 em 12 (21,8%), alteração IgH em 7 (12,7%), del(11q) em 6 (10,9%) e del(17p) em 4 (7,3%). Treze tinham mais de uma alteração. Durante o seguimento, ocorreram 20 óbitos (36,3%): 8 no Binet A (25,8%), 4 no Binet B (40,0%) e 8 no Binet C (61,5%). Óbitos foram registrados nos grupos com trissomia 12 (6), perda de ATM (5), del(17p) (4) e del(13q) isolada (7). Uma paciente com del(13q)+del(11q) evoluiu para Síndrome de Richter. A sobrevida global mediana foi 12,4 anos, variando conforme risco citogenético: del(13q), 12,4 anos; trissomia 12, 4,25 anos; del(11q)+del(17p), 4,4 anos (p < 0,05). Pacientes sem alterações no FISH tiveram sobrevida semelhante ao pior prognóstico (4,92 anos). Não houve diferença na sobrevida mediana entre os grupos Binet: 11.4 anos Binet A; 10.0 Binet B e 5.9 no Binet C (p = 0,56).
Discussão e conclusãoO percentual de pacientes com deleções 11q e 17p e a trissomia do cromossomo 12 estão alinhados com a literatura atual sobre alterações genéticas na LLC. No entanto, a prevalência da deleção 13q na nossa coorte foi de 67,3%, significativamente maior do que os 35% reportados na literatura. Essa discrepância pode ser atribuída ao perfil temporal da nossa coorte. Apesar disso, a estratificação prognóstica realizada por FISH demonstrou ser valiosa para a caracterização dos pacientes. O estadiamento de Binet parece não ter relevância significativa no contexto local, especialmente considerando que os tratamentos utilizados não incluíram terapias alvo direcionadas.




