HEMO 2025 / III Simpósio Brasileiro de Citometria de Fluxo
Mais dadosA aloimunização eritrocitária é uma complicação frequente em pacientes com doenças hematológicas crônicas, especialmente naqueles submetidos a múltiplas transfusões. A formação de aloanticorpos pode limitar a disponibilidade de hemocomponentes compatíveis, além de aumentar o risco de reações hemolíticas tardias. Em pacientes com Leucemia Mieloide Aguda (LMA), a alta demanda transfusional durante o tratamento intensifica o risco de sensibilização eritrocitária.
Descrição do casoPaciente do sexo feminino, 64 anos, internada em enfermaria com anemia associada a neoplasia hematológica sendo diagnosticada com Leucemia Mieólide Aguda. No intervalo de quatro meses, recebeu 80 hemocomponentes, sendo 25 concentrados de hemácias e 55 concentrados de plaquetas. O diagnóstico definitivo de LMA foi estabelecido durante o acompanhamento clínico. A fenotipagem eritrocitária estendida, realizada em 28/12/2024, evidenciou o seguinte perfil: C+, c-, E-, e+, K-, Fya+, Fyb+, Jka+, Jkb-, Lea-, S+, s+, Dia-. A pesquisa de anticorpos irregulares, utilizando a técnica em gel (LISS-Coombs/Enzima), identificou os aloanticorpos anti-Dia e anti-Lea. O teste de antiglobulina direta (Coombs direto) foi positivo (1+), indicando sensibilização eritrocitária por IgG, com auto-controle negativo e eluato não reagente. A identificação do perfil fenotípico e dos aloanticorpos impôs desafios significativos para a seleção de hemocomponentes compatíveis, exigindo busca em estoques ampliados, o que resultou em atraso na liberação de unidades eritrocitárias. A equipe de hemoterapia atuou de forma proativa, garantindo a comunicação efetiva com o laboratório de referência e os centros produtores, otimizando a logística transfusional e minimizando riscos à paciente. Na avaliação mais recente (18/05/2025), a fenotipagem eritrocitária manteve-se inalterada. A sorologia não evidenciou novos anticorpos irregulares, embora o Coombs direto tenha permanecido positivo (1+). O auto-controle apresentou-se positivo (1+), sugerindo processo imunológico ativo, ainda sem manifestações clínicas de hemólise. O teste de eluato continuou negativo.
ConclusãoEste caso ilustra a aloimunização eritrocitária precoce em paciente com LMA, com produção de aloanticorpos contra antígenos de baixa frequência (Dia) e do sistema Lewis (Lea). A persistência do Coombs direto positivo, mesmo na ausência de anticorpos detectáveis no soro, reforça a importância do monitoramento sorológico contínuo. A detecção precoce e o manejo adequado da aloimunização são essenciais para prevenir reações transfusionais e garantir a segurança do suporte hemoterápico. Entre as estratégias preventivas recomendadas destacam-se: realização de fenotipagem eritrocitária estendida antes da primeira transfusão, registro sistemático do histórico transfusional e sorológico, capacitação da equipe multiprofissional para identificação precoce de reações adversas e integração efetiva entre os serviços clínico e hemoterápico. A aloimunização eritrocitária em pacientes politransfundidos com LMA pode ocorrer precocemente e evoluir de forma dinâmica. Protocolos institucionais que incluam fenotipagem estendida e vigilância sorológica sistemática são fundamentais para promover a segurança transfusional e a qualidade do cuidado prestado




