HEMO 2025 / III Simpósio Brasileiro de Citometria de Fluxo
Mais dadosA porfiria intermitente aguda (PIA) é o subtipo mais prevalente da porfiria hepática aguda (PHA), associada à deficiência parcial da enzima porfobilinogênio deaminase (PBGD). O tratamento convencional dos ataques agudos inclui a administração intravenosa de hemina, analgésicos e monitorização clínica. A aprovação do givosirana pela Food and Drug Administration (FDA) em 2019 e sua adoção subsequente em outros países, incluindo o Brasil em 2020, transformou o manejo da doença, reduzindo a frequência de crises e a necessidade de hemina profilática.
ObjetivosEste estudo visa comparar a eficácia e segurança do givosirana em curto e longo prazo, com base em estudos intervencionistas e observacionais.
Material e métodosFoi realizada uma revisão sistemática da literatura seguindo as diretrizes PRISMA nas bases PubMed, Embase, Scopus e Web of Science, utilizando os descritores "Acute Intermittent Porphyria", "Acute Hepatic Porphyria" e "Givosiran". Foram incluídos ensaios clínicos randomizados e estudos de coorte em português ou inglês. Após a desduplicação dos artigos e exclusão de artigos de revisão e artigos originais cuja população principal do estudo não fosse de pacientes com diagnóstico de PIA, restou somente quatro estudos selecionados para análise.
Discussão e conclusãoO principal estudo analisado foi o ENVISION, um ensaio clínico duplo-cego, randomizado e multicêntrico, que incluiu 94 pacientes (48 no grupo givosirana e 46 no grupo placebo). Após seis meses, o grupo givosirana apresentou uma média anual de crises significativamente menor (3,2; IC 95%: 2,3–4,6) em comparação ao placebo (12,5; IC 95%: 9,4–16,8), representando uma redução de 74% (p < 0,001). Ademais, 50% dos pacientes no grupo givosirana permaneceram livres de crises, versus 17% no placebo. Observou-se também redução significativa nos níveis urinários de ácido delta- aminolevulínico (ALA) e porfobilinogênio (PBG) (86% e 91%, respectivamente; p < 0,001). O grupo givosirana apresentou ainda diminuição no uso de hemina e opioides e melhora na avaliação subjetiva da doença. Em relação à segurança, 90% dos pacientes tratados com givosirana relataram eventos adversos (EAs), frente a 80% no grupo placebo. Os EAs mais frequentes foram reações no sítio de injeção, náusea, insuficiência renal por redução da taxa de filtração glomerular, rash cutâneo, elevação de alanina- aminotransferase (ALT) e fadiga. Esses achados foram corroborados por um estudo de fase 1, que avaliou doses entre 0,035 e 5 mg/kg/mês. A dose de 2,5 mg/kg/mês apresentou melhor equilíbrio entre eficácia (redução de ALA e PBG) e perfil de segurança. Na continuidade do ENVISION, com seguimento de até 30 meses, os pacientes que continuaram a receber givosirana mantiveram uma média anual inferior a uma crise e níveis urinários persistentemente baixos de ALA e PBG. Aqueles originalmente alocados no grupo placebo apresentaram reduções semelhantes após o início do givosirana, reforçando a eficácia sustentada do tratamento. O tratamento mensal com givosirana em pacientes com PIA demonstrou eficácia robusta, evidenciada pela redução significativa na frequência de crises, uso de hemina e opioides, e dos níveis urinários de ALA e PBG. Embora tenha sido observada uma taxa discretamente maior de EAs, estes foram predominantemente de baixa gravidade e não houve registro de eventos fatais, reforçando o uso clínico do givosirana no tratamento da PIA.




