HEMO 2025 / III Simpósio Brasileiro de Citometria de Fluxo
Mais dadosA adolescência é definida como o período compreendido entre 13 e 18 anos, segundo o Estatuto da Criança e do Adolescente. A partir de 2011, o Ministério da Saúde brasileiro regulamentou a doação de sangue realizada a partir de 16 anos, com consentimento formal do responsável legal.
ObjetivosAnalisar o perfil de doação de sangue entre adolescentes brasileiros em serviço privado de hemoterapia, com ênfase nas taxas de inaptidão, eventos adversos relacionados ao procedimento, risco de transmissão de doenças infecciosas e potencial de aumento na captação de novos doadores.
Material e MétodosConsulta direto aos registros informatizados de serviço privado de hemoterapia entre 12 Bancos de Sangue, localizados em São Paulo (04), Rio de Janeiro (04), Bahia (01), Pernambuco (01), Piauí (01) e Distrito Federal (01) durante o ano de 2024. Foram avaliados dados epidemiológicos, percentual de inaptidão, percentual de sorologias não-negativas e intercorrências relacionadas à doação.
ResultadosDurante o período avaliado, foram realizadas 213.351 doações de sangue nas unidades participantes do estudo. Desse total, 1.144 foram provenientes de menores de 18 anos (0,5% do total). No Piauí, verificou-se a maior média proporcional de doadores adolescentes em relação ao total de coletas efetivadas (1,4%). O percentual de inaptidão entre adolescentes durante triagem clínica foi de 8,6% havendo 3,3 vezes mais chances de inaptidão do que em outras faixas etárias (95% IC 2,69–4,01, p < 0,01). Entre 5,8% dos menores doadores de sangue, houve intercorrências imediatas relacionadas ao procedimento, onde sintomas vasovagais foram os mais comuns. Em 62% dos eventos adversos observados, houve acometimento do sexo feminino. Quando comparados aos doadores de sangue de outras faixas etárias, os adolescentes tiveram 2,78 mais chances de intercorrências (95% IC 2,16–3,57, p < 0,01). Do total de doações concluídas por menores de idade, oito bolsas foram descartadas por alterações sorológicas. Em 30,1% das doações realizadas nessa faixa etária, o comparecimento foi espontâneo enquanto 38,5% vieram devido campanhas de reposição.
Discussão e ConclusãoCom o envelhecimento populacional, é necessário sensibilização contínua de novos doadores para que exista autossuficiência nos serviços de hemoterapia. Dados de 2021 apontam que 4% das doações de sangue realizadas nos Estados Unidos foram feitas por adolescentes. Apesar de ser um procedimento seguro, a literatura descreve maior risco de reações imediatas e deficiência de ferro entre doadores dessa faixa etária. Antes da primeira doação, pesquisas apontam que parte dos adolescentes refere diferentes tipos de medo antecipatório à coleta (agulhas, visualização do sangue, dor) o que pode contribuir para a ocorrência de reações vasovagais e reduzir a possibilidade de fidelização do doador aos postos de coleta de sangue. Mesmo com esses riscos, a baixa prevalência de infecções transmissíveis por transfusão e o alto grau de motivação altruísta tornam o público adolescente como desejável para recrutamento.
ConclusãoO estudo sugere que há potencial de ampliação do número de doações de sangue por adolescentes brasileiros, ainda abaixo da média internacional. A população avaliada apresentou baixo índice de alterações sorológicas. Entretanto, houve risco aumentado de inaptidão clínica e eventos adversos, o que aponta a necessidade de estratégias preventivas para mitigar tais ocorrências, proporcionando uma experiência positiva que favoreça a adesão destes jovens para futuras doações.




