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Vol. 43. Núm. S1.
Páginas S107 (Outubro 2021)
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VOLVO DE SIGMOIDE EM LINFOMA/LEUCEMIA DE BURKITT ASSOCIADO A TERAPIA COM VINCRISTINA
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RL Pacca, SS Fernandes, AHA Resende, LS Oliveira, PCC Bariani, PL Filgueiras, RMS Soares, RS Melo, LC Palma
Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (HCFMRP), Universidade de São Paulo (USP), Ribeirão Preto, SP, Brasil
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Introdução

O linfoma/leucemia de Burkitt (LB), é uma neoplasia de rápida progressão, com elevado potencial de gravidade. Diante disso, diversos esquemas terapêuticos tem sido considerados, porém muito se discute sobre o melhor tratamento de primeira linha. Ainda assim, há espaço para uma determinada classe de drogas, utilizada na maioria dos esquemas iniciais: os alcalóides da vinca, os quais possuem a neuropatia como importante efeito colateral.

Objetivo

Relato de caso de um paciente com diagnóstico de LB que apresentou quadro abdome agudo obstrutivo após primeiro ciclo de quimioterapia contendo Vincristina (VCR).

Relato de caso

Homem, 68 anos, negro, com antecedente de infarto agudo do miocárdio, epilepsia e insuficiência cardíaca, encaminhado para avaliação da hematologia após biópsia de massa periamigdaliana, com resultado compatível com LB. Ao diagnóstico, paciente apresentava lesão de 7,4 x 5,3 x 4,1 cm em região amigdaliana; a biópsia demonstrou neoplasia linfoide de padrão difuso, constituída por linfócitos de tamanho intermediário com alta relação núcleo-citoplasma, figuras de mitose e apoptose frequentes. A amostra apresentava padrão em céu estrelado. A imunohistoquimica, foi positiva para CD20, CD10, BCL6 e MYC, e negativa para CD3, BCL2, com KI-67 de 95-100%. Paciente então foi admitido para início de esquema com R-DA-EPOCH, contendo 2 mg de VCR. Após o primeiro ciclo de quimioterapia, foi liberado sem intercorrências. Após10 dias da alta hospitalar, foi avaliado presencialmente devido queixa de parada de eliminação de flatos e fezes. Ao exame físico, apresentava distensão abdominal importante, com timpanismo difuso. Solicitada avaliação da equipe cirúrgica, que indicou laparotomia exploradora, com achado de volvo de sigmoide no intraoperatório. Realizada sigmoidectomia e colostomia, com evolução favorável no pós operatório e manutenção do tratamento oncológico, porém sem VCR nos ciclos de quimioterapia subsequentes.

Discussão

A vincristina é um alcaloide da vinca com alto poder de depleção linfocitária, e portanto excelente ação em neoplasias linfoides. O esquema R-DA-EPOCH, tradicionalmente, contém VCR e é amplamente utilizado em linfomas agressivos, como o LB. Sabe-se que os efeitos colaterais da VCR são proporcionais à dose utilizada, sendo que diversos protocolos estabelecem uma dose máxima de VCR, a fim de minimizá-los. Dentre eles, a neurotoxicidade é o objeto de interesse desse relato. O efeito neuropático da VCR pode se manifestar como neuropatia periférica motora e/ou sensitiva, o que também inclui alterações da motilidade do trato gastrointestinal. Virtualmente, 100% dos pacientes apresentam algum sintoma neuropático, e cerca de 50% apresenta algum grau de constipação intestinal, com alguns relatos na literatura de oclusão intestinal. Notadamente, os pacientes mais afetados são aqueles que já apresentam alguma neuropatia prévia – como neuropatia diabética -, pacientes caquéticos, pacientes em uso de G-CSF e/ou de inibidores do complexo p450, dentre outros. No caso em questão, o paciente apresentou quadro importante de constipação intestinal sem melhora com uso de laxativos convencionais, e que evoluiu rapidamente para quadro de abdome agudo obstrutivo secundário a volvo de sigmoide.

Conclusão

Os alcaloides da vinca, como a VCR, são fundamentais no tratamento das neoplasias linfoides. No entanto, seu uso deve ser avaliado individualmente, de acordo com as toxicidades apresentadas. Deve-se atentar especialmente ao componente neuropático, sobretudo gastrointestinal, de forma a prevenir e/ou tratar desde efeitos adversos leves - como uso de laxativos na constipação intestinal-, até eventos graves e potencialmente fatais, como o apresentado acima. Podem ser necessários ajustes ou, até mesmo, suspensão das doses posteriores.

O texto completo está disponível em PDF
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Hematology, Transfusion and Cell Therapy
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