HEMO 2025 / III Simpósio Brasileiro de Citometria de Fluxo
Mais dadosA legislação hemoterápica vigente prevê que o serviço de hemoterapia ofereça ao doador a possibilidade de autoexclusão confidencial, caso ele identifique risco aumentado não informado ou omitido durante a triagem clínica. Por não ser obrigatória, a avaliação da efetividade dessa ferramenta é relevante para a gestão dos processos transfusionais e para a segurança hemoterápica.
ObjetivosAnalisar a efetividade do voto de autoexclusão pela prevalência de infecções sorológicas verdadeiramente positivas (VP) entre os doadores que se autoexcluíram em comparação aos que autorizaram o uso transfusional dos hemocomponentes.
Material e métodosEstudo retrospectivo, descritivo-analítico, utilizando dados informatizados do Hemocentro UNICAMP referentes às doações de sangue total entre junho de 2020 e junho de 2025. A triagem sorológica foi realizada em quimioluminescência (CMIA - Abbott) e a molecular nas Plataformas NAT HIV/HCV/HBV e NAT PLUS HIV/HBV/HCV/MALÁRIA de Bio-Manguinhos. Amostras reagentes ou inconclusivas na sorologia foram testadas em metodologias imunoenzimáticas ou eletroquimioluminescentes, floculação e imunocromatográfico rápido para sífilis, e imunoblot rápido para HIV. Para análise de VP foi adotada a positividade em mais de uma metodologia para ao menos um marcador sorológico, enquanto que para doadores com resultados positivos exclusivamente na triagem molecular foi considerado apenas um único teste. A análise estatística utilizou testes qui-quadrado e cálculo da razão de chances (OR) com intervalo de confiança de 95% (IC95%).
ResultadosForam realizadas 345.551 doações no período estudado, das quais 344.006 (99,55%) foram autorizadas e 1.545 (0,45%) autoexcluídas. A inaptidão sorológica foi observada em 4.502 (1,3%) doadores autorizantes e em 51 (3,30%) autoexcluídos. Entre os VP, identificaram-se 2015 (0,58%) autorizantes e 32 (2,07%) autoexcluídos. A prevalência de VP foi significativamente maior entre os autoexcluídos (OR 3,5; IC 95% 2.5-5.1; p< 0,0001). Nos autorizantes, as infecções mais prevalentes foram sífilis (0,3%), hepatite B (0,24%, sendo 0,23% anti-HBc isolado), seguidas por hepatite C (0,02%), HIV, doença de Chagas e HTLV (0,01%). Entre os autoexcluídos, sífilis (0,97%) e hepatite B (0,65%, sendo 0,52% anti-HBc isolado) predominaram, seguidos por HIV (0,26%), hepatite C (0,13%) e doença de Chagas (0,06%).
Discussão e conclusãoA taxa de VP foi aproximadamente 3,6 vezes maior em autoexcluídos, resultados consistentes com estudos prévios que apontam maior prevalência de marcadores infecciosos neste grupo. Embora a adesão ao voto de autoexclusão tenha sido baixa (0,45%), seu impacto à segurança transfusional é desproporcionalmente elevado. A distribuição das infecções mais prevalentes reflete o perfil epidemiológico local, destacando sífilis e hepatite B. O achado sugere que a autoexclusão continua sendo um mecanismo útil para captar riscos residuais não identificados na triagem clínica inicial, podendo embasar ajustes nos roteiros de entrevista e reforço de orientações aos doadores. A autoexclusão mostrou-se efetiva como recurso adicional de segurança transfusional, associando-se a maior prevalência de infecções VP entre os doadores que optaram por esta medida. A maior proporção de VP entre os autoexcluídos reforça a efetividade da ferramenta ao possibilitar que o doador revele, de forma confidencial, riscos não informados ou não identificados na triagem, sustentando sua relevância e continuidade no fluxo assistencial.




