O score Sequential Organ Failure Assessment (SOFA) é usado para caracterizar disfunções orgânicas em pacientes admitidos na unidade de terapia intensiva sob diversas condições. No entanto, seu uso no paciente oncológico submetido a quimioterapia pode ser limitado pelo fato que seu marcador de disfunção da hemostasia, que é a presença de plaquetopenia, poder estar reduzido neste grupo devido ao efeito citostático da quimioterapia, o que pode superestimar o grau de disfunção orgânica neste grupo. Por este motivo, uma adaptação deste score, conhecida como SOFAhem, que não inclui a contagem de plaquetas como parâmetro de gravidade, já foi proposta na literatura, mas sua acurácia na predição de desfechos negativos foi pouco estudada.

Caracterizar os pacientes com neutropenia febril em quimioterapia quanto ao score SOFAhem e avaliar sua associação dom desfechos clínicos de gravidade.

113 pacientes com diagnóstico de neoplasias hematológicas e neutropenia febril foram incluídos retrospectivamente no estudo. Os pacientes foram caracterizados quanto ao score SOFA, que contém 6 parâmetros, e SOFAhem, no qual a contagem de plaquetas e escala de Glasgow foram omitidas. Devido a esta redução do número de parâmetros, os valores do SOFAhem foram normalizados para comparação direta com os valores do SOFA. Foram avaliados desfechos clínicos de mortalidade e necessidade de suporte invasivo. As análises de dados foram realizadas no R Studio.

Em comparação ao SOFA após a normalização, a pontuação de disfunção orgânica do SOFAhem reduziu ou permaneceu estável em 106 pacientes, enquanto houve aumento em 7 pacientes. Estes últimos apresentaram mais chance de necessitarem de suporte invasivo (OR = 5.53 [1.13-40]; p = 0.0474) e óbito relacionado à sepse (OR = 8.09 [1.63-44.6]; p = 0.0101), quando comparados aos outros. A escala Eastern Cooperative Oncology Group (ECOG) mostrou correlação positiva com ambos SOFA (r = 0.49, p < 0.001) e SOFAhem (r = 0.53, p < 0.001). Quando comparadas as curvas ROC de ambos os scores, não foi observada diferença quanto ao óbito (Z = 0.0654, p = 0.947) e necessidade de suporte invasivo (Z = 0.583, p = 0.559).

Nossos resultados demonstram que a omissão da contagem de plaquetas do cálculo do escore SOFA em pacientes com neutropenia febril associada à quimioterapia não compromete sua capacidade de predição de desfechos clínicos como óbito associado à sepse e necessidade de suporte invasivo, bem como tem o potencial de contribuir com uma visão mais objetiva nos parâmetros de gravidade aplicados aos pacientes com neutropenia febril. O escore adaptado SOFAhem apresentou acurácia diagnóstica de predição para o desenvolvimento de desfechos clínicos negativos nos pacientes, assim como o score SOFA, entretanto permitiu ainda uma melhor categorização quanto à gravidade de efeitos advindos da neutropenia febril secundária à quimioterapia.