
O linfoma difuso de grandes células B (LDGCB) é o subtipo mais comum de linfoma não-Hodgkin (LNH) em adultos. Cerca de 1/3 dos pacientes sofre recidivas e/ou é refratário (R/R) à terapêutica de primeira linha. A necessidade de outras linhas de tratamento prolonga o tempo de tratamento e o número de drogas utilizadas, aumentando o risco de complicações e utilização de recursos de saúde.
ObjetivosAvaliar o perfil epidemiológico e a utilização de recursos de saúde em uma coorte brasileira de pacientes com LDGCB R/R, através de dados de mundo real derivados da Plataforma Trinetx.
Materiais e métodosForam incluídos pacientes ≥18 anos, com diagnóstico de LDGCB entre Jan/2012 a Dez/2022, tratados com mais de uma linha de tratamento e com seguimento de pelo menos 3 meses. Dados de mundo real foram avaliados (demográficos, comorbidades, informações oncológicas, exames complementares, internações hospitalares, necessidade de UTI, tratamentos realizados e mortalidade em 5 anos) através da plataforma TriNetX. Os dados de utilização de recursos são reportados em porcentagem de pacientes que os utilizaram e a mediana de utilização/paciente.
ResultadosDe uma coorte inicial de 1651 pacientes diagnosticados com LDGCB, procedentes de 13 hospitais públicos e privados do Brasil, 524 (31,7%) pacientes eram R/R. Observamos predominância de homens (58,9%), com idade média de 52 ± 18 anos. Em relação ao tratamento, 185 (29,6%) receberam 2 linhas de tratamento (LOT) e 235 (44,8%) ≥3LOT. Quando comparamos os pacientes que receberam 2LOT vs ≥3LOT, observamos que mais pacientes com ≥3LOT foram submetidos a TMO (5,4% vs 20,8%, p = 0,02), maior frequência de internações hospitalares (75% vs 88%, p < 0,001) e internações em UTI (10,8% vs 29,8%, p < 0,001), além de um maior número de internações por paciente (3 vs 5, p < 0,0001). Foi observada maior frequência de neutropenia febril em pacientes com ≥ 3 LOT (34,9% vs 23,8%, p < 0,014). Em relação a exames de imagem, os pacientes com ≥ 3LOT realizaram mais tomografias computadorizadas (3 vs 2, p < 0,0001), PET-CTs (3 vs 2, p = 0,05), radiografias (6 vs 5, p < 0,0001),) e US de abdome (2 vs 1, p = 0,006). Houve menor frequência de diálise (4% vs 5,2%, p = 0,98) que os pacientes com 2LOT. As medicações mais utilizadas e o respectivo tempo de uso comparando ≥ 3LOT vs 2LOT: 68,4% filgrastima (12 vs 6 episódios, p = 0,12 com 4 vs 2 dias/episódio, p = 0,0007), 38,4% levofloxacina (2 vs 2 episódios, p = 0,09 com 8 vs 7 dias/episódio, p = 0,08), 36,6% fluconazol (1 vs 1 episódio, p = 0,91 com 14 vs 12 dias/episódio, p = 0,13), 34,5% meropenem (1 vs 1 episódio, p = 0,10 com 12 vs 10 dias/episódio, p = 0,04), 28% vancomicina (1 vs 1 episódio, p = 0,93 com 7 vs 6 dias/episódio, p = 0,02). O seguimento mediano dos pacientes que fizeram 2LOT foi de 793 dias e ≥3LOT foi de 805 dias, sem diferença na sobrevida global em 5 anos (49,7% vs 39,4%, p = 0,13).
DiscussãoOs resultados mostram que aproximadamente 45% dos pacientes recidivados necessitaram de ≥3LOT, sendo o TMO mais frequente nestes pacientes que nos pacientes de 2LOT. Houve uma maior frequência na realização de exames e uso de medicações nos pacientes ≥3LOT e maior frequencia de diálise em pacientes de 2LOT.
ConclusãoApresentamos os primeiros dados de mundo real sobre a utilização de recursos de saúde em pacientes com LDGCB R/R no Brasil. Tais dados são importantes para o planejamento e alocação de recursos associados ao tratamento de pacientes com tal condição, uma vez que há gastos com monitorização terapêutica, internações e exames complementares.