
A flebotomia terapêutica é um método de retirada de sangue, de modo a tratar e prevenir diversas condições tóxicas para o organismo. O objetivo do presente trabalho é realizar uma revisão da literatura sobre as principais aplicações terapêuticas da sangria atualmente.
Material e métodosRevisão de artigos científicos através das bases de dados Google Scholar e Pubmed no mês de agosto de 2021. Foram utilizadas as seguintes palavras-chave: therapeutic phlebotomy, therapeutic phlebotomy AND applications, bloodletting therapy, phlebotomy AND nonalcoholic fatty liver disease, therapeutic phlebotomy AND hemochromatosis.
ResultadosA realização de sangrias está indicada no tratamento de Policitemia Vera (PV), eritrocitoses secundárias à hipóxia (como doenças pulmonares crônicas e cardiopatias cianóticas), porfiria cutânea tarda (PCT), e demais doenças que podem cursar com hiperferritinemia como hemocromatose hereditária (HH) e estenose hepática não alcoólica (EHNA). A flebotomia terapêutica deve ser realizada no tratamento de PV quando os valores de hematócrito (Ht) são maiores que 54%, principalmente se houver risco trombótico. No caso das doenças pulmonares com sintomas de hiperviscosidade ou com Ht superior a 56%, a realização do procedimento é indicada, com objetivo de reduzir o Ht para 50–52%. Na PCT, as sangrias devem ser realizadas a cada 2 semanas, até que os níveis de hemoglobina (Hb) estejam inferiores a 20 ng/mL. Na EHNA, frequentemente há aumento de deposição de ferro no fígado e níveis de ferritina elevados, ambos relacionados ao carcinoma hepatocelular. Também pode ocorrer a síndrome da sobrecarga dismetabólica de ferro, caracterizada por hiperferritinemia com leve acúmulo hepático de ferro. Nesses casos, a sangria foi associada à normalização dos parâmetros de ferro e à melhora nos níveis das enzimas hepáticas. Na HH, as sangrias são realizadas semanalmente até atingir níveis de ferritina menores que 50 ng/mL e de saturação de transferrina menor que 50%, a fim de prevenir complicações em pacientes sintomáticos ou dano em órgãos alvo. Pacientes com HH devem realizar sangrias de manutenção continuamente.
DiscussãoA flebotomia terapêutica pode ser realizada em doenças com aumento de massa eritrocitária como a PV e PCT, a fim de prevenir eventos trombóticos, como acidentes cardiovasculares e cerebrovasculares, desfechos principalmente frequentes em pacientes com mais de 60 anos e com histórico prévio de eventos tromboembólicos. Também pode ser utilizada em doenças que cursam com hiperferritinemia, como a HH, que através de sangrias objetiva a normalização do ferro nos tecidos, redução do risco de desenvolver cirrose hepática e melhora na expectativa de vida.
ConclusãoA flebotomia terapêutica é importante no tratamento de diversas doenças, levando resultados positivos aos pacientes. Apesar de ser um procedimento simples, é essencial o conhecimento e promoção de suas indicações, além do treinamento e preparo dos bancos de sangue e hospitais para a sua execução. Evidenciamos que a flebotomia terapêutica é válida para a prevenção de desfechos trágicos como eventos trombóticos, cirrose, câncer hepático e para o aumento da expectativa de vida média na HH.