HEMO 2025 / III Simpósio Brasileiro de Citometria de Fluxo
Mais dadosA avaliação de clonalidade de linfócitos T por citometria de fluxo tem se consolidado como ferramenta complementar no diagnóstico de neoplasias de células T maduras, auxiliando na diferenciação entre expansões reativas e neoplásicas. O uso combinado dos anticorpos TRBC1 e TRBC2 permite identificar a restrição na expressão de um dos epítopos da cadeia β do receptor de células T, sugerindo clonalidade. Apesar de estudos prévios demonstrarem sua aplicabilidade, a padronização de valores de referência e o desempenho na rotina laboratorial brasileira ainda carecem de validação.
ObjetivosValidar um tubo contendo anticorpos TRBC1 e TRBC2 para a análise de clonalidade de linfócitos T, estabelecendo valores de referência para populações CD4+ e CD8+ em indivíduos normais e caracterizando o perfil imunofenotípico de casos clonais.
Material e métodosForam analisados 26 casos consecutivos, sendo 17 controles normais e 9 casos com linfócitos T clonais confirmados por critérios clínico-laboratoriais. O tubo de clonalidade T continha anticorpos anti-TRBC1 e anti-TRBC2, além de marcadores para definição das populações de interesse (CD3, CD4, CD8, CD5, CD7, CD57 e CD45). A aquisição foi realizada em citômetro FACSLyric (BD), com análise no software Infinicyt. Foram calculadas as médias, medianas, desvios- padrão, mínimos e máximos para cada população e para as relações TRBC2/TRBC1. Nos casos clonais, foi calculada a porcentagem total de linfócitos T clonais e identificada a monoclonalidade (TRBC1+ ou TRBC2+).
ResultadosNos controles normais, observou-se uma distribuição equilibrada de TRBC1 e TRBC2. Na população CD4+, a média de TRBC1 foi de 44,3% ± 6,5 (30,8-56%), enquanto a média de TRBC2 foi de 55,7% ± 6,5 (44-69%). A razão TRBC2/1 apresentou média de 1,31 ± 0,38 (0,79-2,25), com intervalo de referência calculado em 0,57 a 2,05. Na população CD8+, a média de TRBC1 foi de 35,7% ± 8,7 (18-52,9%) e a média de TRBC2 foi de 64,3% ± 8,7 (47-82%). A razão TRBC2/1 teve média de 2 ± 0,88 (0,89-4,56), com intervalo de referência de 0,28 a 3,73. As subpopulações CD4+/CD57+ e CD8+/CD57+ apresentaram maior variabilidade, mas mantiveram razões TRBC2/1 próximas a uma unidade na maioria dos casos normais. Na população CD4+/CD57+, a média de TRBC1 foi de 37,5% ± 27,4 e a de TRBC2 foi de 55,65% ± 27,76, com razão TRBC2/1 média de 2,61 ± 2,85. Já na população CD8+/CD57+, a média de TRBC1 foi de 32,2% ± 13,7 e a de TRBC2 foi de 67,8% ± 9,9, com razão TRBC2/1 média de 2,47 ± 1,37. Nos casos clonais (n = 9), a mediana da porcentagem de linfócitos T clonais foi de 9,6% (1,4% –52%). Sete casos apresentaram clonalidade para TRBC2 e dois casos para TRBC1. Em todos os casos, a razão TRBC2/1 esteve fora dos intervalos de referência estabelecidos para a população normal, evidenciando restrição fenotípica. Os clones TRBC2+ apresentaram razões TRBC2/1 elevadas, frequentemente acima de 6, enquanto os clones TRBC1+ mostraram razões inferiores a 0,1. A diferença entre casos normais e clonais foi evidente em ambas as populações CD4+ e CD8+.
Discussão e conclusãoA detecção de restrição na expressão de TRBC1 ou TRBC2 é um método reprodutível e aplicável na rotina laboratorial para avaliação de clonalidade de linfócitos T. O presente estudo estabeleceu valores de referência para populações CD4+ e CD8+ em nossa população, demonstrando utilidade do tubo validado na diferenciação entre expansões reativas e neoplásicas.




