HEMO 2025 / III Simpósio Brasileiro de Citometria de Fluxo
Mais dadosO mieloma múltiplo (MM) é uma neoplasia progressiva originada da proliferação clonal de plasmócitos na medula óssea, alterando a hematopoiese. Essa condição leva a anemia, lesões ósseas líticas, insuficiência renal e sintomas como dor óssea, fraturas, fadiga, dispneia e palidez. A estratégia de tratamento é determinada pela elegibilidade do paciente para o Transplante Autólogo de Células Tronco Hematológicas (TACTH). Em 2022, o SUS disponibilizou o uso do Bortezomibe, um inibidor do proteassoma, para o tratamento de pacientes elegíveis ao TACTH, com destaque para o esquema VTD (Bortezomibe, Talidomida e Dexametasona).
ObjetivosAnalisar as características clínicas, laboratoriais, respostas terapêuticas e eventos adversos dos pacientes com MM elegíveis ao TACTH do ambulatório de hematologia de um hospital do SUS.
Material e métodosEstudo transversal e retrospectivo baseado na análise dos prontuários de pacientes com MM submetidos ao TACTH após uso do Bortezomibe.
ResultadosO estudo abrangeu 31 pacientes entre 42 e 76 anos (média 60,1 anos; mediana 61 anos), sendo 74% homens e 23% mulheres. As comorbidades mais frequentes são Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS) (31%), histórico de tabagismo (21%), Diabetes Mellitus (DM) (19%), histórico de etilismo (11%) e neoplasias malignas (11%). Os sintomas mais relatados no diagnóstico foram lombalgia (67,7%), perda ponderal (38,7%), astenia (38,7%), dor em membros inferiores (MMII) (22,6%) e parestesia e paresia em MMII (16,7%). Na avaliação laboratorial antes e após o TACTH, a Hb média variou de 11,34 para 13 g/dL; plaquetas de 231067 para 198161/mm3; creatinina de 1,07 para 1,14 mg/dL; beta2-microglobulina (B2M) de 4639 para 2938,26 ng/mL e cálcio iônico (Cai) de 1,51 para 1,21 mEq/L. Pelo estadiamento ISS (International Staging System), 21,4% foram classificados como ISS I, 32,1% como ISS II e 46,4% como ISS III. 22 pacientes foram tratados com VTD, 10 com VCD, 4 com CTD antes da implementação do Bortezomibe e 4 apresentaram recidiva após o TACTH. O tempo médio entre o diagnóstico e o TACTH foi de 12,9 meses e após isso, 67,7% não apresentaram proteína monoclonal na imunofixação, obtendo uma resposta completa. O tempo médio de seguimento foi de 38,5 meses, com apenas 1 (3,2%) óbito durante este seguimento (23 meses de sobrevida).
Discussão e conclusãoA faixa etária e a predominância masculina seguem o perfil epidemiológico da literatura. A HAS e a DM são condições prevalentes para essa média de idade e os sintomas inespecíficos mostram a apresentação clínica insidiosa do MM, levando a um diagnóstico tardio. O aumento de Hb após o TACTH indica uma recuperação da função hematopoiética e a redução de B2M e Cai mostram uma boa resposta terapêutica. Houve uma discreta redução nas plaquetas e elevação da creatinina, possivelmente pela toxicidade da quimioterapia. A prevalência do ISS III sugere uma doença avançada, mas o predomínio da ausência de proteína monoclonal mostra uma boa resposta ao TACTH. Logo, os sintomas e as comorbidades do MM reforçam a necessidade da avaliação clínica multidimensional no manejo desses pacientes. A preferência pelo VTD e VCD está alinhada com as diretrizes terapêuticas atuais, no SUS, dada a eficácia do Bortezomibe. O TACTH é uma estratégia central no tratamento do MM, com impacto positivo na sobrevida e na qualidade de vida dos pacientes.




