HEMO 2025 / III Simpósio Brasileiro de Citometria de Fluxo
Mais dadosA Trombocitopenia Aloimune Fetal Neonatal (TAFN) é uma causa de plaquetopenia em neonatos, decorrente da lise plaquetária por anticorpos maternos contra antígenos fetais, os quais são herdados do pai, especialmente o HPA-1a (mais de 80%). Como encontram-se ausentes na mãe, ela pode desenvolver uma resposta imune, resultando na formação dos anticorpos anti-HPA. Existem casos em que não são identificados os anticorpos anti-HPA, mas sim os anticorpos maternos contra os Antígenos Leucocitários Humanos (HLA) de classe I. Em contrapartida, a fisiopatologia deste anticorpo anti-HLA na gênese desse distúrbio ainda é incerta. A apresentação clínica é variável, desde trombocitopenia até, nos casos mais graves, hemorragia intracraniana. A plaquetopenia é definida por uma contagem plaquetária inferior à 150.000 células/mL, com risco hemorrágico quando abaixo de 30.000 células/mL. A maioria dos quadros de hemorragia ocorre durante a gestação, especialmente antes da 30ª semana. O diagnóstico é confirmado pela presença de anticorpos anti-plaquetários no soro materno, porém a TAFN é um diagnóstico de exclusão, quando as outras causas forem descartadas. O tratamento envolve a manutenção das plaquetas em níveis superiores a 50.000. Se houver necessidade de transfusão plaquetária, a melhor opção é a materna, pois não serão destruídas pelos antígenos anti-HPA.
ObjetivosRevisar casos clínicos de neonatos com TAFN, abordando a fisiopatologia e a avaliação de anticorpos antiplaquetários.
Material e métodosEste é um estudo descritivo, com análise de incidência e transversal retrospectivo da TAFN em neonatos nascidos no Hospital Israelita Albert Einstein, durante os anos de 2019 a 2025. Foi realizada a análise de 8 prontuários, sendo que a análise da especificidade dos anticorpos plaquetários foi realizada através do KIT PAKLX (Immucor®) para a pesquisa de anticorpos HPA e HLA.
ResultadosA incidência dessa afecção no estudo foi de 1 em 2578 gestações, enquanto na literatura, estima-se de 1 em 1.5002. A maior parte era secundigesta (3/8) e sem abortos prévios (5/8). Embora na maioria dos casos o feto tenha sobrevivido (7/8), 1 deles apresentou um óbito fetal na 10ª semana de gestação, muito provavelmente decorrente de uma hemorragia durante a gestação. Os anticorpos detectados foram o anti-HLA classe 1 (3/8), anti-HPA 1a (3/8), anti-HPA 5b (1/8) e anticorpo GP IIa/IIIb (1/8, sendo impossível a determinação da especificidade devido à panreatividade da glicoproteína).
Discussão e ConclusãoO diagnóstico TAFN é subdiagnosticado devido a manifestação subclínica ou pela falta de recursos para investigação. O anticorpo anti-HPA foi encontrado em 5 soros maternos, sendo prioritariamente a especificidade anti-HPA 1a. Em alguns casos, com quadro clínico compatível, foram detectados anticorpos anti-HLA, ambos compatíveis com a literatura. O trabalho reforça a relevância do diagnóstico de TAFN, ressaltando a incidência em um serviço de referência, em que a correta educação médica para os diagnósticos diferenciais e a presença de laboratórios de referência são elementos essenciais para o conhecimento dessa patologia.
Referências:
- 1.
Kao KJ, et al. Quantitative analysis of platelet surface HLA by W6/32 anti-HLA monoclonal antibody. Blood. 1986;68(3):627-32.
- 2.
de Vos TW, et al. Epidemiology and management of fetal and neonatal alloimmune thrombocytopenia. Transfusion and Apheresis Science. 2020;59(1):102704.
- 3.
Bertrand G, et al. How do we treat fetal and neonatal alloimmune thrombocytopenia? Transfusion. 2014;54(7):1698-1703.




