
Trombocitopenia imune ou púrpura trombocitopenica idiopática (PTI), é uma doença mediada por autoanticorpo IgG causando destruição plaquetária. Acomete adultos e crianças, no adulto a incidência é de 2-4 casos/ 100.000 pessoas/ano, pico de incidência entre 20-30 anos e prevalência maior em mulheres e após 60 anos em ambos os sexos.
ObjetivoTraçar o perfil de adultos com PTI do Hospital do Servidor Público Estadual de SP (HSPE) e confrontar com literatura.
Materiais e métodosEstudo retrospectivo, análise de prontuários de portadores de PTI acompanhados regularmente. Idade, sexo, plaquetas (PLQ) ao diagnóstico, comorbidades associadas, tratamentos realizados, resposta e complicações foram avaliados, analisados e confrontados com literatura.
ResultadosForam avaliados 100 pacientes (78% mulheres: 22% homens), idade mediana 58 (mínimo11- 84) anos, PLQ ao diagnóstico 21.500 (inserir o desvio padrão30.382,68)/mm3. Dos pacientes analisados 22% foram mantidos com tratamento conservador, 69% submetidos a 1ªlinha com corticoterapia (CE), 7% CE+imunoglobulina (Ig) e 2% esplenectomia. Dos pacientes 1ªlinha, 56,5% tiveram resposta completa (RC): PLQ ≥100.000/mm3, 28,9% apresentaram resposta parcial (RP): PLQ>30.000/mm3 ou 2x maior que a contagem inicial e 14,4% sem resposta: PLQ<30.000/mm3 ou inferior à 2x o valor inicial. Dentre os que receberam 1ª linha, associada ou não a Ig, 64,4% precisaram de 2ª linha em 30,6 meses.
DiscussãoPTI caracteriza-se pela ação imune contra glicoproteínas das superfícies plaquetária e megacariocítica. O diagnóstico é realizado com PLQ<100.000/mm3, sem citopenia associada e exclusão de outras causas, tais como: medicações, doenças reumatologias, infecções virais, hepatopatias e causas medulares. O sintoma mais comum é o sangramento cutâneo-mucoso. Tratamento objetiva manter plaquetas adequadas para que não traga prejuízo a hemostasia primária. Intervenção terapêutica deve ser instituída quando PLQ for <20000-30000/mm3 mesmo na ausência de sangramentos. A prevalência foi maior em mulheres (3,2:1), assim como descrito em literatura, porém com idade maior. Isto pode ser explicado pelo perfil mais idoso de usuários do HSPE. Entretanto, apesar desse perfil, nossos resultados são semelhantes aos encontrados em mais jovens. A esplenectomia demonstra cerca de 8,2% de falha a curto e 4,4% a longo prazo, nesse estudo a taxa de falha e recidiva após esplenectomia foi de 6,7 em ambas, ratificando a literatura. A transitoriedade da depleção das células B e o baixo perfil de toxicidade justificam o uso do Rituximabe no tratamento da PTI. As taxas de resposta encontrada no presente também estão em concordância com estudos anteriores que descrevem RC e RP de 43,6% e 62,5%, respectivamente. O número de pacientes utilizando análogos da trombopoetina não permitiu dados relevantes, entretanto observou-se 25% de recaída. Maior número de pacientes precisa ser analisado para conclusões definitivas, mas podemos associar à dificuldade em tomar a medição livre de períodos alimentares, bem como interação com medicamentos que diminuem sua eficácia.
ConclusãoO manejo terapêutico da PTI é, por vezes, desafiador. Os achados encontrados foram condizentes com a literatura e reforçam que o acompanhamento regular associado às propostas terapêuticas são fundamentais para o sucesso do tratamento desta doença.