HEMO 2025 / III Simpósio Brasileiro de Citometria de Fluxo
Mais dadosA Leucemia Linfoide Aguda (LLA) pediátrica é uma doença geneticamente heterogênea, com múltiplos subtipos definidos por aneuploidias, translocações e mutações. Apesar dessa diversidade, todos os pacientes recebem o mesmo protocolo de quimioterapia, variando apenas na intensidade conforme fatores clínicos, biológicos e resposta inicial, medida pela Doença Residual Mínima (DRM). Ainda assim, mais de 20% dos pacientes recaem, mesmo após terapias intensivas, evidenciando a necessidade de abordagens mais personalizadas. Na oncologia de precisão, as terapias são geralmente guiadas por alterações genéticas. Contudo, nem todos os pacientes apresentam mutações tratáveis e, frequentemente, a biologia da resposta ao tratamento é mais complexa do que apenas alterações genômicas. Além disso, testes genéticos demandam alto custo, mão de obra especializada e estrutura pouco acessível ao sistema público brasileiro.
ObjetivosO objetivo desse trabalho foi desenvolver e aplicar uma abordagem de medicina de precisão funcional baseada em triagem de fármacos ex vivo, como alternativa para personalização terapêutica em casos de LLA pediátrica de difícil tratamento.
Material e métodosPara isso, células leucêmicas obtidas do aspirado de medula óssea de pacientes pediátricos com LLA foram cultivadas em co-cultura com células estromais e expostas a um painel de 60 fármacos oncológicos, em cinco concentrações diferentes, utilizando placas de 384 poços. O efeito das drogas foi monitorado por microscopia automatizada, que capturou imagens seriadas a cada 30 minutos durante 72 horas. Um software desenvolvido por nossos colaboradores analisou os vídeos, detectando a morte celular a partir da interrupção dos movimentos de membrana. A metodologia é rápida (entrega de resultados em menos de uma semana), simples, custo-efetiva, escalável e não requer sequenciamento genético nem infraestrutura complexa.
ResultadosA abordagem foi validada in vitro, correlacionando a resistência a glicocorticoides com a DRM clínica, e também in vivo, utilizando modelos PDX, nos quais maior sensibilidade aos corticoides no teste de fármacos previu maior sobrevida dos animais tratados. Até o momento, 110 amostras de LLA pediátrica foram triadas, sendo 31 de pacientes maus respondedores. Em todos esses casos de maus respondedores, foi possível identificar alternativas terapêuticas personalizadas. Um exemplo foi a identificação de sensibilidade a inibidores de MEK em uma amostra de segunda recaída pós transplante de medula óssea, resistente a todos os quimioterápicos previamente utilizados.
Discussão e conclusãoEm resumo, apresentamos uma metodologia inovadora de triagem funcional de fármacos ex vivo, capaz de indicar alternativas terapêuticas mesmo na ausência de dados genômicos, de forma rápida, escalável e de baixo custo.




