
A literatura mostra que em média 1 em cada 2000-2500 plaquetas podem apresentar contaminação bacteriana. Essas bactérias podem causar quadros graves, inclusive fatais, levando pacientes a cursarem com reações sépticas em 1/10.000 a 100.000, pois a bactéria presente na plaqueta pode estar em pequena quantidade ou ser de baixo potencial patogênico. Alguns estudos mostram que a Cutibacterium acnes (anteriormente Propionibacterium) tem crescimento lento e dificilmente causam reações sépticas, relatos de até 0,39% de positividade em culturas. Conforme recomendação da portaria de Consolidação n°5 e orientação da Associação Americana de Banco de Sangue (AABB), 100% das plaquetas transfundidas no nosso serviço devem ser inoculadas 24 horas após a coleta. Outra medida para aumentar a segurança na transfusão de plaquetas é acrescentar cultura de frasco anaeróbio. Essa medida não é obrigatória no Brasil. Alguns estudos questionam o valor dessa medida, pois o frasco anaeróbio detecta patógenos de relevância clínica discutível, possui alta taxa de falso-positivo e aumenta os custos.
ObjetivoAvaliar a taxa de contaminação bacteriana de plaquetas no nosso serviço, a taxa de positividade para Cutibacterium acnes e a taxa de resultado falso positivo do frasco anaeróbio.
Material e métodoO estudo foi conduzido em um serviço de Hemoterapia em São Paulo, SP. Foi um estudo retrospectivo, com dados de janeiro/2017 até junho/2022. Para inoculação das plaquetas (aférese – PQA e randômica – PQR) uma amostra individual foi separada 24 horas após a doação e testada no sistema BacT/ALERT®com 4mL no frasco aeróbio e 5mL no frasco anaeróbio. Os frascos ficaram incubados até o 6°dia e os frascos positivos foram enviados ao laboratório de Microbiologia para identificação do microrganismo. Consideramos resultado de cultura inicialmente positiva todos os frascos positivos no BacT/ALERT®. Resultado verdadeiro positivo quando um microrganismo era identificado na microbiologia e falso positivo quando não era possível realizar a identificação do microrganismo.
ResultadosDe janeiro/2017 a junho/2022, 24708 plaquetas foram inoculadas, sendo 13682 PQA e 11026 PQR. A taxa de identificação de cultura inicialmente positiva foi de 0,21% (52). Após identificação de microrganismo, as taxas de verdadeiro positivo (VP) e falso positivo (FP) foram de 0,15% e 0,06%, respectivamente. Excluindo Cutibacterium acnes, a taxa de VP foi de 0,04% / 1:2745. Se considerarmos apenas PQA, a taxa VP foi de 0,05%/1:1955. No total foram identificados 8 microrganismos, sendo os principais: Cutibacterium acnes (n = 29) e Staphylococcus epidermidis (n = 3) e Streptococcus (n = 2). O frasco anaeróbio positivou sozinho 43 vezes, sendo 31 VP e 12 FP. Já o frasco aeróbio positivou sozinho apenas 4 vezes, sendo 1 VP e 3 FP. Ambos os frascos positivaram juntos em 6 ocasiões, em todas, algum germe foi identificado.
DiscussãoA taxa de contaminação pelo Cutibacterium acnes foi de 0,12%, sendo que em 76,3% dos resultados VP ele foi a bactéria identificada. No nosso serviço, o frasco anaeróbio é o que apresenta a maioria dos resultados positivos. O frasco aeróbio apresentou maior taxa de resultados falso positivos do que o frasco anaeróbio.
ConclusãoA taxa de contaminação bacteriana no nosso serviço é semelhante com a descrita em literatura. O frasco anaeróbio foi uma medida eficaz implementada no serviço afim de aumentar a sensibilidade na detecção de contaminação bacteriana de plaquetas prevenindo reações potencialmente graves em pacientes.