
Os Vipomas são tumores neuroendócrinos raros do pâncreas, caracterizados pela produção excessiva de peptídeo intestinal vasoativo (VIP), levando a diarreia aquosa, desequilíbrios eletrolíticos, desidratação e consequentes graves complicações potenciais. O tratamento convencional envolve a terapia com análogos de somatostatina e cirurgias. No entanto, a disponibilidade irregular de medicamentos pode comprometer o controle da doença.
RelatoUm homem de 56 anos apresentou-se com diarreia intensa, perda de peso significativa e desidratação. Exames revelaram hipocalemia grave, elevação de enzimas pancreáticas e escórias nitrogenadas renais. O tratamento de urgência envolveu terapia renal substitutiva, reposição eletrolítica, com recuperação completa do quadro clínico. A tomografia computadorizada (TC) de abdome total evidenciou um tumor neuroendócrino em cauda pancreática medindo 4 centímetros com metástases hepáticas, linfonodais e peritoneais. Iniciou-se tratamento empírico com Octreotida de liberação rápida, resultando em melhora sintomática significativa. A investigação complementar revelou dosagem de VIP 79,5 pmol/l (valor de referência até 30 pmol/l), ressonância de sela túrcica e dosagem de paratormônio normais. A cirurgia de debulking foi realizada para diagnóstico e citoredução tumoral, confirmando o diagnóstico de tumor neuroendócrino grau 2 com extensão para órgãos adjacentes. Após irregularidade do fornecimento do análogo de somatostatina de longa duração, o paciente retornou a apresentar sintomatologia com risco elevado de complicações agudas. Optou-se pela terapia teranóstica com Octreotato-Dota-177Lutécio (Lu) devido a sua eficácia comprovada para terapia de tumores neuroendócrinos gastroenteropancreáticos bem diferenciados com expressão comprovada para receptores de somatostatina. O paciente permaneceu em uso regular mensal de análogo de somatostatina durante cinco anos. Desde então continua assintomático, últimas tomografias realizadas sem evidência de recidiva ou de doença mensurável.
ConclusãoO tratamento com Octreotato-Dota-177Lu em um paciente com vipoma metastático demonstrou eficácia na ausência de acesso regular a análogos de somatostatina de longa duração. Este caso destaca a importância de alternativas terapêuticas em contextos em que a disponibilidade de medicamentos é limitada, resultando em controle da doença e melhora significativa na qualidade de vida do paciente. A terapia com Octreotato-Dota-177Lu mostrou-se uma opção viável e eficaz em casos semelhantes, merecendo consideração em pacientes com dificuldades de acesso a tratamentos convencionais.